Resumo da notícia

  • Reservas em Bitcoin já transformam empresas e inspiram novos modelos.

  • Brasil lidera inovação com Pix, Drex e tokenização de ativos.

  • Instituições ampliam presença via equity, stablecoins e tesourarias digitais.

Nesta terça, 23, durante o DAC 2025, promovido pelo Mercado Bitcoin, Guilherme Gomes, da Orange, maior empresa com reservas de Bitcoin da América Latina, afirmou que as reservas corporativas em Bitcoin, antes vistas como experimentos isolados, se consolidam como o alicerce de um novo sistema financeiro global.

Desde que Michael Saylor iniciou a estratégia de transformar a MicroStrategy em uma “empresa de tesouraria de Bitcoin”, o mercado testemunhou uma mudança radical. Ele partiu de uma decisão defensiva, voltada à preservação de valor em meio à pandemia, mas acabou criando um modelo replicado por corporações no mundo todo. A lógica era simples: proteger poder de compra em um ambiente de liquidez abundante e inflação crescente.

Segundo Gomes, esse raciocínio vai muito além de uma alocação tática. Ao converter caixa em Bitcoins mantidos no balanço, as companhias constroem uma forma de defesa contra crises monetárias. Para ele, essa estratégia já não se limita a um nicho de tecnologia ou inovação, mas se tornou um padrão empresarial com impacto sistêmico.

Um exemplo citado foi o da Metaplanet, no Japão, que em menos de dois anos saiu de um valor de mercado inferior a US$ 5 milhões para se transformar em referência global. Com uma tesouraria próxima de 30 mil Bitcoins e capitalização em torno de US$ 5 bilhões, a empresa mostrou a força de um modelo de acumulação direta de BTC. O caso, afirma Gomes, comprova que existe demanda global por exposição ao ativo, mesmo sem instrumentos tradicionais amplamente disponíveis.

A Orange, que chega agora à América Latina, pretende repetir essa fórmula. Seu mandato é construir a maior tesouraria de Bitcoin da região, além de investir em educação para investidores e instituições. O objetivo é oferecer acesso a uma classe de ativos que, segundo Gomes, se tornará inevitável nos próximos anos.

“Quando se fala em tesouraria, o ativo mais sólido do planeta é o Bitcoin. Esse é o futuro das empresas e da economia”, afirmou.

Produtos de crédito e equity

O movimento não se limita ao acúmulo de reservas. Empresas como a Strategy lançaram produtos de crédito baseados em Bitcoin, como o Stretch, em um dos maiores IPOs do ano. Essa inovação mostra que investidores institucionais querem alternativas claras para acessar o setor.

Muitos fundos têm mandatos restritos a renda fixa ou ações, o que inviabilizava exposição direta a criptoativos. Com a criação de produtos financeiros estruturados, o capital encontra um caminho natural para entrar.

Essa tendência reforça a ideia de que as reservas em Bitcoin não só preservam valor, mas criam liquidez e novos instrumentos de mercado. Gomes ressaltou que a Strategy começou esse movimento de forma oportunista, mas acabou transformando o modelo em negócio central.

Hoje, a empresa se define não como uma desenvolvedora de software, mas como uma corporação de tesouraria de Bitcoin, com mandato claro de aumentar suas reservas e expandir produtos financeiros.

O papel do Brasil e a inovação em pagamentos

Enquanto empresas globais consolidam o modelo das tesourarias em Bitcoin, o Brasil mostra protagonismo em inovação financeira. Benjamin Lizana, do Softbank, destacou que o país se tornou exemplo ao lançar o Pix, sistema de liquidação instantânea reconhecido internacionalmente. Essa iniciativa abriu espaço para o Drex, versão digital do real voltada ao ambiente corporativo e de investimentos.

Para Lizana, o Drex pode transformar o mercado de crédito brasileiro, avaliado em US$ 500 bilhões, ao permitir a tokenização de ativos antes ilíquidos. Ele acredita que essa liquidez, somada à tradição brasileira em renda fixa, cria condições únicas para o país liderar a próxima etapa da criptoeconomia.

Além disso, outros mercados já observam o Banco Central do Brasil como referência, inclusive os Estados Unidos, que consultam a experiência do Pix para aprimorar o FedNow.

Esse avanço, segundo Lizana, conecta diretamente o mercado local ao cenário global de inovação. Ele defende que o Brasil já entrou na segunda fase da revolução digital: a integração de ativos reais com tecnologia blockchain. Essa agenda coloca o país na dianteira dos emergentes e cria ambiente propício para IPOs, fusões e aquisições, além de uma nova onda de capitalização.

O olhar institucional sobre o setor

Outro ponto central foi apresentado por Randall Little, da 50 Funds, que ressaltou a transição do mercado cripto de um ambiente dominado pelo varejo para um campo cada vez mais institucional. Ele lembrou que seu fundo sempre priorizou equity, mesmo quando tokens monopolizavam a atenção. Essa escolha, que antes parecia conservadora, agora se mostra estratégica, já que o capital institucional migra em massa para ações de empresas ligadas ao setor.

Little citou que neste ano houve uma disseminação massiva da prática de tesourarias corporativas em ativos digitais, não apenas em Bitcoin e Ethereum, mas também em altcoins. O apetite por stablecoins, exchanges centralizadas e ativos do mundo real tokenizados reforça a ponte entre investidores tradicionais e o ecossistema blockchain. Ele destacou ainda o caso da Coinbase, que ampliou seu alcance com a criação da Base, solução de segunda camada (L2), embora o mercado acionário ainda não tenha dado a devida atenção.

Para o gestor, a tese inicial de que a entrada de instituições remodelaria o mercado está agora comprovada.

“O equity se tornou o canal natural para absorver o capital que estava de fora da cripto”, afirmou. Ele prevê que nos próximos anos veremos de cinco a dez IPOs relevantes no setor, consolidando essa tendência.