Resumo da notícia
Banco Central libera testes da duplicata escritural, abrindo caminho para R$ 10 trilhões em tokens RWA.
Núclea, B3 e CERC iniciam homologação com sistemas já integrados e testes avançados.
Modelo digital deve reduzir riscos, impulsionar crédito e acelerar a tokenização no Brasil.
O Banco Central do Brasil deve abrir agora em dezembro uma nova fase da digitalização financeira ao liberar os testes oficiais do sistema de duplicata escritural, um mecanismo que promete transformar o crédito nacional e permitir a criação de até R$ 10 trilhões em tokens RWA nos próximos anos.
A medida vai iniciar o processo de homologação das registradoras, que vão operar o novo modelo. A Núclea confirmou ao Cointelegraph Brasil que já está pronta para os testes e disse que seu sistema está completamente desenvolvido. Além disso, a empresa afirmou que vários clientes já participam de uma fase preliminar de integração.
Rafael Pedrão Dal Mas, Superintendente-Executivo de Negócios da Núclea, reforçou que a empresa se antecipou às etapas seguintes e se encontra tecnicamente preparada e que o avanço regulatório cria uma base sólida para o novo ecossistema.
‘A homologação marca o início de um ambiente mais seguro, transparente e eficiente. Nossa solução está alinhada com as demandas do mercado e vai reduzir riscos e juros.’, disse.
Duplicata Escritural
Com o aval do Banco Central, o sistema agora passa por testes supervisionados. A etapa durará até 120 dias e inclui simulações de emissão, registro, liquidação e monitoramento de duplicatas digitais. Tudo será acompanhado por auditorias independentes antes da liberação completa da operação.
O BC afirmou que o modelo entrará em produção assistida em março de 2026 e que a adoção obrigatória será feita apenas em 2027. As empresas, no entanto, poderão aderir de forma voluntária antes do prazo. Esse período permitirá que todo o mercado se ajuste ao novo formato.
O chefe de regulação da instituição, Ricardo Vieira Barroso, comparou o avanço ao impacto do Pix. Ele afirmou que a duplicata escritural cria um ambiente muito mais seguro e que o potencial do novo mercado pode ultrapassar R$ 10 trilhões.
Atualmente, somente 10% das duplicatas emitidas no país são negociadas. Com essa mudança, pequenas e médias empresas terão acesso a crédito com mais facilidade, menos custos e maior previsibilidade.
Rafael Jardim Goulart de Andrade, coordenador do Departamento de Regulação do BC, destacou que a medida fortalece o mercado com transparência e empoderamento dos agentes. Segundo ele, a duplicata escritural será decisiva para ampliar o crédito corporativo.
A digitalização do documento representa uma ruptura estrutural. A antiga duplicata em papel, sujeita a fraudes e duplicidades, será substituída por um registro digital único, padronizado, rastreável e supervisionado. Cada documento ficará vinculado à nota fiscal eletrônica, eliminando dúvidas sobre autenticidade e lastro.
Chander Masson, gerente da Núclea, lembrou que o novo sistema forma um mercado unificado. Ele afirmou que “agora ficará impossível emitir a mesma duplicata em duas instituições, o que reduz riscos e incentiva crédito mais barato.”
Expansão da tokenização
A plataforma da Núclea, integrada à B3 e à CERC, já movimentou R$ 300 milhões em duplicatas tokenizadas. Masson explicou que a duplicata escritural abre caminho para a expansão da tokenização de ativos reais (RWA), um mercado que deve dobrar em 2025.
A B3 confirmou oficialmente sua participação. Segundo Humberto Costa, diretor de Produtos e Estratégia, a bolsa desenvolve uma plataforma robusta para negociação de duplicatas digitais. Ele disse que o mercado de recebíveis movimenta perto de R$ 10 trilhões por ano e precisa de infraestrutura moderna.
Após os testes, a B3 deve receber autorização para atuar como escrituradora, permitindo que empresas emitam e negociem duplicatas eletrônicas já em 2026.
A fintech Monkey também anunciou sua prontidão. Roberta Ferraz, diretora de Novos Negócios, afirmou que a empresa está criando módulos específicos para sacados, fornecedores e financiadores, todos com automação e conciliação em tempo real. Para ela, a duplicata escritural representa uma ruptura inevitável, impulsionada por um arcabouço regulatório consistente.
A introdução da duplicata escritural também traz benefícios jurídicos. O título digital facilita protestos, execuções e perícias judiciais, além de permitir conferência automática entre mercado, empresas e instituições financeiras.
No setor empresarial, a mudança reforça governança e reduz riscos operacionais. A integração com a nota fiscal eletrônica assegura autenticidade, liquidez e exigibilidade dos recebíveis.