Resumo da notícia

  • Novo sistema digital do Banco Central deve gerar até R$ 10 trilhões em tokens RWA.

  • Duplicata escritural trará mais transparência, rastreabilidade e segurança ao crédito.

  • Testes começam em 2026, com participação de B3, Núclea, CERC e Monkey.

O Banco Central do Brasil deu mais um passo decisivo rumo à digitalização completa do crédito nacional. Nesta quinta-feira (31), a instituição aprovou o plano de testes das registradoras para a duplicata escritural, um sistema que promete revolucionar o mercado de recebíveis e abrir caminho para a tokenização de até R$ 10 trilhões em ativos no país.

A nova estrutura regulatória faz parte de uma transformação estrutural do sistema financeiro, que já teve avanços históricos com o Pix e o Open Finance. Agora, com a duplicata escritural, o Banco Central busca digitalizar e formalizar títulos de crédito que antes circulavam em meio físico ou sistemas descentralizados, tornando as operações mais seguras, rastreáveis e transparentes.

Segundo o BC, o novo modelo entrará em produção assistida em março de 2026, com adesão voluntária de bancos e instituições financeiras. A obrigatoriedade total do sistema deve acontecer a partir de 2027, marcando o início de uma nova era para o crédito corporativo brasileiro.

O chefe de regulação do BC, Ricardo Vieira Barroso, destacou que a duplicata escritural é um marco comparável ao lançamento do Pix.

“O Banco Central criou uma base normativa sólida que permitirá que esse ecossistema floresça e inove. O potencial é de um mercado de crédito que pode ultrapassar R$ 10 trilhões”, afirmou.

Atualmente, apenas 10% das duplicatas emitidas no país são negociadas. O novo modelo digital pode mudar essa realidade, permitindo que pequenas e médias empresas acessem capital com menos burocracia e mais confiança.

Já o coordenador do Departamento de Regulação do BC, Rafael Jardim Goulart de Andrade, afirmou que o objetivo é “fortalecer o mercado de crédito, com transparência e empoderamento dos agentes econômicos”.

Ele destacou que a duplicata escritural faz parte da Agenda BC#, que vem guiando a modernização do sistema financeiro nacional.

A revolução digital da duplicata escritural

A duplicata escritural é uma versão digital da antiga duplicata mercantil — um documento usado por empresas para registrar vendas a prazo e antecipar recebíveis. Antes, esse título precisava ser emitido fisicamente e muitas vezes era usado de forma duplicada, criando riscos e fraudes.

Com o novo modelo, cada duplicata será registrada digitalmente em sistemas supervisionados pelo Banco Central, impedindo a emissão duplicada e assegurando governança e rastreabilidade total.

Chander Masson, gerente de negócios da Núclea, explicou que o sistema cria um mercado único e confiável. “Agora será impossível emitir a mesma duplicata em mais de uma instituição. Isso reduz riscos e aumenta a oferta de crédito com custos menores”, disse.

Segundo Masson, o modelo está totalmente alinhado com a tokenização de ativos reais (RWA). “A duplicata escritural é o ambiente natural para a tokenização. A Núclea já movimentou R$ 300 milhões em duplicatas tokenizadas e pretende integrar essa funcionalidade ao sistema em 2026.”

A plataforma já conta com integração técnica concluída entre B3, Núclea e CERC, garantindo interoperabilidade e padronização entre os sistemas. Os testes homologatórios, aprovados pelo Banco Central, terão duração de até 120 dias e incluirão simulações de emissão, registro, liquidação e monitoramento de duplicatas.

A B3, bolsa de valores brasileira, também confirmou estar pronta para os testes.

“Estamos construindo uma plataforma robusta, segura e ágil para negociação de duplicatas escriturais, que movimenta cerca de R$ 10 trilhões por ano no país”, afirmou Humberto Costa, diretor de Produtos e Estratégia da B3.

Após os testes e auditoria independente, a B3 deverá receber a autorização para operar como escrituradora oficial, possibilitando às empresas emitirem e negociarem duplicatas digitais a partir de 2026.

A fintech Monkey anunciou prontidão para participar da nova fase regulatória. Segundo Roberta Ferraz, diretora de Novos Negócios, a empresa vai atuar para ajudar companhias a se adaptarem à nova realidade.

“O ideal é que as empresas iniciem a adaptação agora, para entrarem no sistema em 2026 com total fluidez. A duplicata escritural representa uma ruptura importante, apoiada por um arcabouço regulatório robusto que garante segurança e legitimidade”, afirmou.

A Monkey também prepara soluções específicas para sacados, sacadores e financiadores. Para os compradores, haverá um módulo de monitoramento e conciliação automática de títulos. Já para fornecedores, uma ferramenta de gestão integrada de duplicatas e, para instituições financeiras, painéis de dados e analytics em tempo real.

O impacto econômico e a nova infraestrutura de crédito

O Banco Central estima que o sistema poderá liberar até R$ 10 trilhões em liquidez por ano, dinamizando o crédito em todos os níveis da economia. A digitalização das duplicatas deve reduzir spreads, facilitar o acesso de pequenas empresas ao crédito e impulsionar a tokenização de ativos reais (RWA) — segmento que já movimenta bilhões no Brasil.

César Kobayashi, superintendente de Tokenização e Ativos Digitais da Núclea, prevê um crescimento acelerado: “A tokenização deve ultrapassar R$ 8 bilhões em volume em 2025, dobrando o resultado de 2024. O sistema de duplicatas será um catalisador natural desse processo.”

A duplicata escritural transforma o crédito corporativo em um ecossistema digital transparente, rastreável e tokenizável. Bancos, fintechs, FIDCs e empresas poderão operar com mais segurança e menos custos.

Segundo o Banco Central, a obrigatoriedade do sistema recairá apenas sobre instituições financeiras, enquanto pequenas empresas poderão aderir de forma voluntária. Isso garante uma transição gradual e inclusiva.

A digitalização das duplicatas insere o Brasil em um novo patamar tecnológico — capaz de unir crédito, blockchain e tokenização em uma mesma infraestrutura regulada.