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Amin HaqshanasAmin Haqshanas

Ofensiva cripto da República Centro-Africana alimentou 'captura do Estado' por elites e redes criminosas, diz relatório

Um novo relatório alertou que a ofensiva cripto da República Centro-Africana favoreceu elites e expôs o país a redes criminosas estrangeiras, em vez de ampliar a inclusão financeira.

Ofensiva cripto da República Centro-Africana alimentou 'captura do Estado' por elites e redes criminosas, diz relatório
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A ofensiva da República Centro-Africana no setor cripto aprofundou o controle das elites e expôs o país a “organizações criminosas estrangeiras”, de acordo com um relatório recente da Global Initiative Against Transnational Organized Crime (GI-TOC).

No relatório intitulado “Behind the blockchain: Cryptocurrency and criminal capture in the Central African Republic”, os pesquisadores afirmam que as iniciativas cripto da República Centro-Africana, desde a adoção do Bitcoin (BTC) como moeda de curso legal até o lançamento da Sango Coin e da memecoin CAR, foram implementadas em um país frágil, com acesso limitado à eletricidade, à internet e à fiscalização.

“Uma população empobrecida, exposta a execuções em massa, tortura e estupros coletivos, com acesso limitado à eletricidade, a telefones celulares e à internet, não consegue participar de investimentos em criptomoedas de forma significativa”, afirma o relatório, argumentando que os programas foram “mais voltados aos interesses de investidores estrangeiros do que às necessidades da própria população”.

O relatório criticou especificamente uma lei de julho de 2023 que permite a tokenização de recursos nacionais como petróleo, ouro, madeira e terras, alegando que a medida coloca em risco a soberania do país.

República Centro-Africana revoga status do Bitcoin como moeda legal após pressão

Em abril de 2022, a República Centro-Africana tornou o Bitcoin moeda de curso legal, tornando-se o segundo país a fazê-lo, após El Salvador. No entanto, o país revogou a legislação em março de 2023 após forte pressão da união monetária regional, a Comunidade Econômica e Monetária da África Central (CEMAC), e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

“A iniciativa era fundamentalmente irrealista”, afirmou a GI-TOC. “Com apenas 15,7% da população conectada à eletricidade”, menos de 40% com assinaturas de telefonia móvel e um PIB per capita de US$ 467, a maioria dos cidadãos não dispunha da infraestrutura e dos recursos necessários para negociar moedas digitais, segundo os pesquisadores.

Como avançaram os projetos cripto da República Centro-Africana. Fonte: The GI-TOC

O relatório também afirmou que o presidente Faustin-Archange Touadéra estava “cercado por entusiastas de criptomoedas, empresários pró-Rússia e magnatas empresariais controversos”. O documento citou exemplos de indivíduos ligados a suposto tráfico ilegal de madeira e associados a múltiplos casos de fraude e condenações.

Em seu ponto mais severo, o relatório afirma que as iniciativas parecem “projetadas para enriquecer um círculo restrito de insiders, ao mesmo tempo em que abrem novos canais para influência estrangeira e para o crime organizado transnacional, em detrimento da população em geral”.

Projetos cripto da República Centro-Africana não ganham tração

A GI-TOC também destacou o fraco desempenho das iniciativas cripto da República Centro-Africana. Em 2022, o país anunciou o lançamento de sua primeira grande iniciativa cripto, a Sango, com o objetivo de tokenizar recursos naturais e atrair investimentos em criptomoedas. No entanto, segundo a GI-TOC, a Sango Coin vendeu menos de 10% de sua oferta-alvo.

O outro grande projeto cripto do país foi a memecoin CAR, que apresentou volatilidade extrema e chegou a enfrentar problemas técnicos. Atualmente, a CAR é negociada em torno de US$ 0,004105, com queda superior a 93% no acumulado do último ano, de acordo com o CoinGecko.