O Brasil e a Índia estão em negociações para criar um sistema inédito de pagamentos diretos entre os dois países, sem passar pelo dólar americano.

A proposta não usa stablecoins, nem tampouco uma bridge entre CBDCs, que podeira conectar o Drex com a rupia eletrônica da Índia, projeto piloto de moeda digital do país.

A solução prevê a integração do Pix, no Brasil, com o UPI, na Índia, em uma rede de liquidação instantânea que permitiria transferências em reais e rúpias em menos de 0,1 segundo.

O projeto representa um passo concreto dentro da agenda de desdolarização do comércio internacional (fato que tem gerado conflito das nações com os EUA), discutida em fóruns multilaterais como o BRICS.

Ao contrário do uso de CBDCs que envolveria a criação de bridges entre as blockchains, do ponto de vista técnico, Pix e UPI são compatíveis, já que utilizam APIs abertas, o que permitiria uma integração sem intermediários e ainda habilitaria todos os participantes de ambos os sistemas financeiros a interagirem entre si.

De acordo com fontes ligadas ao projeto, o desafio maior agora, além da política internacional, é harmonizar regulações, definir um modelo de câmbio transparente e estabelecer regras claras de governança.

A mesma integração poderia também unir as nações com a Rússia que atualmente está ampliando seu “pix” local, o SBP (Система быстрых платежей) e, também sistemas chineses como o IBPS, NUCC ou o e-CNY (CBDC local, mas que não usa blockchain)

Pix e UPI: dois sistemas gigantes

O Pix, criado pelo Banco Central em 2020, já conta com mais de 160 milhões de usuários no Brasil e processa bilhões de transações por mês. Sua adoção massiva tornou o sistema um padrão de pagamento local.

Na Índia, o UPI nasceu em 2016 e é hoje considerado um dos modelos mais avançados do mundo em pagamentos instantâneos. Diariamente, movimenta volumes financeiros que superam o PIB de diversos países, conectando bancos, carteiras digitais e aplicativos.

Ambos funcionam 24 horas por dia, sem custos para o usuário final, e permitem transferências em segundos. A ideia é unir essa infraestrutura para permitir que um brasileiro envie reais para a Índia e o recebedor receba automaticamente rúpias, ou vice-versa, sem a conversão em dólar.

Impacto no comércio bilateral

Atualmente, o comércio entre Brasil e Índia gira em torno de US$ 15 bilhões anuais, com destaque para exportações brasileiras de petróleo, açúcar e óleo de soja, enquanto a Índia fornece medicamentos, fertilizantes e bens industriais.

Com um sistema de pagamentos integrado, esses fluxos poderiam se tornar mais previsíveis e menos onerosos, atraindo novas empresas e fortalecendo a relação comercial. Além disso, remessas pessoais e pagamentos de serviços se tornariam mais simples, seguros e imediatos.

Especialistas em finanças internacionais afirmam que a medida reduziria custos de intermediação, diminuiria a exposição cambial e daria maior autonomia financeira aos países. Entretanto, também alertam para a necessidade de mecanismos de segurança, compliance e prevenção à lavagem de dinheiro.

A iniciativa surge em meio ao esforço do BRICS para ampliar o uso de moedas locais e reduzir a dependência do dólar. Nos últimos anos, o bloco discute alternativas como moedas digitais de bancos centrais, plataformas próprias de liquidação e acordos de swap cambial.