Principais pontos:

  • A demanda por Bitcoin é impulsionada por temores macroeconômicos dos investidores, não apenas pelos fluxos líquidos dos ETFs de BTC spot.

  • A volatilidade do mercado global de títulos está aumentando o apelo do Bitcoin como ativo de proteção, com cortes de juros e alta da inflação provocando uma migração para ativos de risco.

Analistas de cripto afirmam que o interesse dos investidores no Bitcoin (BTC) está cada vez mais ligado ao seu papel como proteção contra a instabilidade geopolítica e financeira.

Em uma publicação recente no X, o analista de mercado independente Adam observou que o principal motor da alta do Bitcoin não são as compras institucionais de ETFs de BTC spot, mas sim as mudanças macroeconômicas mais amplas provocadas pela inflação crescente, pela volatilidade no mercado de títulos e pela incerteza causada por políticas econômicas como a guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump.

O preço do Bitcoin subiu desde que as tarifas dos EUA entraram em vigor. Fonte: Adam/X

Adam destacou que o Bitcoin acumulou alta de mais de 50% desde o primeiro trimestre, coincidindo com a imposição das novas tarifas. Esse desempenho reforçou a percepção do Bitcoin como um ativo de proteção em meio ao aumento das tensões geopolíticas e à incerteza econômica. Analistas como a Capital Flows argumentam que o atual argumento de alta está fundamentado principalmente nas condições macroeconômicas, e não nos fluxos de ETFs.

Ventos macroeconômicos impulsionam a demanda por Bitcoin

O pesquisador macroeconômico global Capital Flows apontou que a atual alta do BTC reflete uma forte expansão do crédito e mudanças nas dinâmicas do mercado de títulos. Bancos centrais, incluindo o Banco Central Europeu (BCE), iniciaram cortes de juros apesar do aumento da inflação em setores como o de serviços da zona do euro. Embora a política do BCE possa refletir preocupações com uma desaceleração econômica mais ampla, os mercados estão interpretando esses movimentos de maneira diferente.

Por exemplo, os swaps de taxa de juros de 30 anos na Europa subiram, sugerindo expectativas de maior crescimento nominal e inflação. O Cointelegraph relatou que os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de longo prazo também aumentaram — as taxas de 30 anos atingiram 5,15% em maio, enquanto as de 10 anos ficaram em 4,48%. Esse “bear steepening” da curva de rendimento geralmente indica que o mercado está precificando uma atividade econômica mais forte, e não recessão.

Títulos públicos de 30 anos. Fonte: LSEG Datastream

No Japão, o estresse no mercado de títulos também está se manifestando. O rendimento dos títulos do governo de 30 anos atingiu recentemente 3,185%, em meio a preocupações com o alto índice dívida/PIB do país. Combinado com a perspectiva fiscal dos EUA e a contínua expansão orçamentária, os investidores estão questionando cada vez mais a viabilidade de longo prazo da dívida soberana tradicional como reserva de valor segura.

O Bitcoin, em contraste, vem ganhando atenção como um ativo não soberano e deflacionário. Nos EUA, as condições financeiras frouxas, refletidas no Índice Nacional de Condições Financeiras, incentivaram a tomada de risco, beneficiando o Bitcoin. O aumento dos níveis de dívida e a possibilidade de uma nova expansão do balanço do Federal Reserve também fortalecem o argumento a favor dos criptoativos.

Assim, esses fatores reforçam uma narrativa macroeconômica mais ampla: o Bitcoin está emergindo como uma proteção não apenas contra a inflação e a desvalorização monetária, mas também contra a instabilidade nos mercados de dívida soberana. Essa tendência, somada à expectativa de US$ 420 bilhões em entradas de investimento, pode continuar a direcionar capital para o BTC ao longo deste ciclo.

Este artigo não contém conselhos ou recomendações de investimento. Toda decisão de investimento ou negociação envolve riscos, e os leitores devem conduzir sua própria pesquisa antes de tomar qualquer decisão.