Observadores do mercado cripto estão se preparando para movimentos de preço à medida que o fim da paralisação histórica do governo dos Estados Unidos parece estar próximo.
O governo dos EUA ainda está tecnicamente paralisado no momento da publicação, mas uma resolução temporária que financiaria serviços governamentais essenciais até janeiro já passou do Senado para a Câmara dos Representantes.
A paralisação afeta várias funções federais vitais, incluindo a capacidade dos órgãos reguladores de valores mobiliários e de commodities de aprovar listagens de criptoativos. A elaboração de leis também está paralisada, tornando cada vez menor a possibilidade do projeto de estrutura regulatória para cripto ser aprovado até o fim do ano.
Após a última paralisação do governo, o preço do Bitcoin (BTC) disparou. No entanto, as condições agora são diferentes, há ventos contrários mais amplos afetando os mercados cripto.
Mercados cripto dispararam após a paralisação do governo em 2019
A atual paralisação do governo dos EUA já chegou ao seu 43º dia, tornando-se a mais longa da história do país. O recorde anterior foi de 35 dias, também sob a presidência de Donald Trump, em seu primeiro mandato.
Paralisações do governo ocorrem quando o Congresso não consegue chegar a um acordo sobre uma resolução para financiar as atividades governamentais. Como resultado, o governo literalmente fica sem orçamento e não pode continuar com várias funções essenciais. Isso inclui o pagamento de benefícios como assistência alimentar a famílias carentes e até o salário de trabalhadores críticos, como controladores de voo.
Para a indústria cripto, isso significa que órgãos como a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) e a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) estão operando com equipes reduzidas. A SEC não conseguiu emitir decisões sobre diferentes pedidos relacionados a cripto, como os de fundos negociados em bolsa (ETFs).
O impacto sobre a economia é inegável. Greg Daco, economista-chefe da consultoria EY-Parthenon, afirmou que haverá “perda visível e permanente de atividade econômica como resultado da paralisação do governo”.
Mas os mercados, incluindo as principais criptomoedas como o Bitcoin, não são tão afetados. Isso também aconteceu durante a paralisação de 2018-2019, no primeiro mandato de Trump.
Naquela ocasião, o preço do Bitcoin caiu cerca de 16%, de US$ 4.200 para cerca de US$ 3.500. Mas, após a reabertura do governo, o preço do Bitcoin disparou, alcançando US$ 13.000, um aumento de quase 300% em apenas cinco meses.
Quase sete anos depois, o Bitcoin acumula queda ao longo da atual paralisação, embora menor, de cerca de 12%. O preço do Bitcoin começou o período por volta de US$ 120.000 e atualmente está sendo negociado próximo de US$ 105.000.
Analistas agora observam a possibilidade de outra corrida de alta nos mercados cripto assim que Washington reabrir. De acordo com Ben Lilly, analista da JLabs Digital e da Browns Research, existem “alguns catalisadores que podem criar fortes ventos favoráveis para os mercados de ativos digitais”.
“Esses catalisadores incluem uma possível redução de juros pelo Federal Reserve, com probabilidade de 67% para um corte de 25 pontos-base, a conta do Tesouro (TGA) adicionando liquidez aos mercados com o fim da paralisação, o término do aperto quantitativo previsto para começar em dezembro pelo Federal Reserve e o fato de que os mercados cripto não tiveram ganhos substanciais em 2025, o que pode levar as empresas a se posicionarem em dezembro visando 2026, em vez de realizarem lucros para o período de impostos como no ano passado”, explicou.
Ainda assim, Lilly disse que a paralisação “foi um balde de água fria” para os mercados cripto. Segundo ele, isso levou a “uma perda de impulso que fez com que os ativos digitais ficassem de fora de grande parte dos ganhos obtidos nos mercados de ações”.
Nic Puckrin, analista de cripto e cofundador do The Coin Bureau, também demonstrou incerteza sobre uma possível alta após o fim da paralisação.
“O mercado cripto tem lutado para recuperar o impulso desde o caos de outubro, e o Bitcoin parece estar enfrentando uma batalha atrás da outra, pressionado pela força do dólar americano, pelos altos rendimentos dos títulos do Tesouro, pela venda de detentores de longo prazo e pela incerteza macroeconômica.”
Outro cheque de estímulo?
A história pode não se repetir, mas tende a rimar. Citando uma enorme entrada de receita vinda das tarifas comerciais que começou a impor no início deste ano, Trump anunciou que emitiria um cheque de estímulo de US$ 2.000 para os americanos.
Durante a crise econômica que se seguiu à pandemia de COVID-19, Trump emitiu cheques de estímulo semelhantes, de US$ 1.200, para os americanos, medida que fez os preços das criptomoedas dispararem.
Como observou a conta pseudônima Ash Crypto no X, “da última vez que isso aconteceu, começou a corrida de alta de 2021, quando o Bitcoin subiu de US$ 3.800 para US$ 69.000”.
O boletim The Kobeissi Letter, sobre mercados globais, afirmou esperar uma alta de preços diante da combinação de possíveis cortes de juros, máximas recordes e cheques de estímulo: “Prepare-se.”
Mas plataformas de negociação como a Robinhood, que registrou volumes recordes quando os beneficiários gastaram seus cheques de estímulo em ações e cripto, talvez precisem esperar antes de comemorar.
Primeiro, nem está claro qual seria o formato dos pagamentos, ou mesmo se eles realmente aconteceriam. Trump afirmou que americanos de baixa e média renda seriam elegíveis, mas não detalhou os níveis de renda. Ele também prometeu usar qualquer valor restante para reduzir a substancial dívida nacional dos EUA.
Além disso, a política tarifária de Trump está atualmente sob intensa análise jurídica, já que a Suprema Corte delibera se ela foi legal. A Constituição estabelece que o Congresso tem o poder de impor tarifas, mas, no último ano, Trump implementou novos impostos sobre produtos importados sem aprovação ou parecer do Legislativo. Se a Corte decidir contra ele, isso poderia eliminar um dos pilares de sua política econômica, e sua capacidade de cobrar e distribuir tarifas na forma de cheques de estímulo.
Há vários fatores semelhantes entre as paralisações de 2019 e a atual, mas indicadores cruciais, como as taxas de juros e o aumento da instabilidade política no governo Trump, tornam um resultado de alta muito menos certo desta vez.