Resumuo da notícia:
Quatro indicadores on-chain sugerem que o ciclo de alta do Bitcoin ainda não chegou ao fim, contrariando expectativas baseadas no padrão histórico de quatro anos.
ETFs de Bitcoin e empresas de tesouraria criaram uma demanda institucional estrutural que está alterando a dinâmica tradicional dos ciclos de mercado.
O ciclo atual ainda não registrou momentos de euforia como a febre dos IPOs em 2017 e dos NFTs em 2021.
Com o Bitcoin (BTC) testando novamente o suporte em US$ 112.500 após uma queda acentuada no fechamento semanal, a pergunta que volta a assombrar os investidores é: o mercado de alta está perto do fim ou as condições macroeconômicas e a nova dinâmica do mercado podem estender o ciclo ao longo de 2026?
Considerando a estrutura dos ciclos de quatro anos, a história sugere que o mercado cripto deveria estar entrando em sua fase final de euforia. Em 2017, esse período coincidiu com o auge da febre das ICOs (oferta inicial de moedas) e em 2021, com a explosão dos preços de coleções de NFTs (tokens não fungíveis) como Bored Ape Yacht Club e Crypto Punks.
No entanto, um relatório recente publicado pela Bipa rejeita essa suposição. Segundo Caio Leta, head de Conteúdo da Bipa, quatro indicadores on-chain sugerem a retomada da tendência de alta rumo a novas máximas históricas.
“Há uma diferença nítida neste ciclo do Bitcoin: em vez da arrancada curta e extremamente eufórica como nos ciclos passados, o ciclo de alta atual pode ser descrito como um grande 'devagar e sempre', ou ainda 'uma subida em degraus',” afirma o relatório.
4 indicadores on-chain apontam continuidade do ciclo de alta
O indicador on-chain mais assertivo para identificar os estágios do ciclo de alta do Bitcoin é o MVRV Z-Score. Ao medir a razão entre o valor de mercado e o valor realizado do Bitcoin (uma métrica que mede o valor em que a moeda se movimentou pela última vez), o indicador padroniza essa razão, medindo quantos desvios-padrão o MVRV está acima ou abaixo de sua média histórica.
Leta aponta que os topos do mercado costumam ocorrer quando o MVRV Z-Score atinge picos acima de 2. Atualmente, ele está abaixo de 1, conforme o gráfico abaixo.
A "Somatória de Indicadores" (Cycle Extreme Oscillators) é um modelo que agrega quatro indicadores on-chain distintos (MVRV, SOPR, Múltiplo de Puell e Reserve Risk) para identificar extremos de mercado. Ele gera sinais apenas quando pelo menos três dos quatro indicadores apontam que o mercado atingiu uma condição de superaquecimento (topo) ou de subvalorização (fundo).
Atualmente, este indicador aponta que, apesar das máximas históricas registradas em agosto, o mercado ainda não atingiu um estágio de superaquecimento. Embora tenham ocorrido picos de otimismo, não houve uma confluência sustentada de sinais que caracterizou topos de ciclo no passado.
A ausência de um consenso unânime entre os indicadores sugere que o mercado, embora aquecido, não está em uma condição de euforia extrema, indicando que há espaço para continuidade da tendência de alta antes de o mercado atingir uma zona de exaustão.
O Pi Cycle Top utiliza dados de análise técnica para identificar com precisão os topos dos ciclos do Bitcoin. Historicamente, o sinal de topo de mercado ocorre quando a média móvel de curto prazo (111-DMA) cruza acima da média de longo prazo, sugerindo que a alta se tornou insustentável.
Atualmente, o Pi Cycle Top ainda não sinalizou um topo, pois o cruzamento das médias não ocorreu. Contudo, a principal ressalva neste ciclo é que sua eficácia histórica está atrelada a picos de euforia acelerados, pondera o relatório:
“Todos os ciclos anteriores não foram ‘devagar e sempre’ e tiveram momentos de forte valorização. Em um ciclo que seja "devagar e sempre" e não possua uma fase de forte valorização, nada leva a crer que este indicador conseguiria de fato acertar o topo.”
Assim como a “Somatória dos Indicadores", a "Zona de Euforia" agrega um conjunto de dados que se manifestam quando o Bitcoin atinge novas máximas históricas. Essa fase é caracterizada por uma "rotação de riqueza", na qual detentores de longo prazo (LTHs) começam a vender suas participações para novos investidores atraídos pela forte valorização. Esse estágio do ciclo é caracterizado por um aumento acentuado na realização de lucros, alavancagem excessiva e um sentimento de ganância generalizada.
Atualmente, o indicador aponta que o Bitcoin está, de fato, operando dentro da "Zona de Euforia", o que é consistente com o estabelecimento de novas máximas históricas. A grande diferença, no entanto, está na intensidade.
Ao contrário dos ciclos anteriores, o mercado não atingiu níveis extremos de superaquecimento dentro dessa zona. A realização de lucros e a euforia têm sido mais contidas e graduais, sugerindo que, embora a ganância esteja presente, ela ainda não alcançou o ponto de exaustão que historicamente sinaliza um topo de mercado iminente.
Investidores institucionais e tesourarias de Bitcoin mudaram dinâmica do mercado
O relatório argumenta que o atual ciclo de alta do Bitcoin opera sob uma dinâmica de demanda completamente nova. Dois fatores estruturais mudaram o jogo: os ETFs de Bitcoin, que injetam capital institucional de forma passiva e constante no mercado, e as empresas de tesouraria de Bitcoin, que adotam o ativo como reserva estratégica de longo prazo.
Os novos players absorvem a pressão vendedora de baleias e detentores de longo prazo, sustentando a manutenção da tendência de alta.
Daí a ausência de fases de euforia similares às do passado. Essa dinâmica gradual permite que o Bitcoin absorva vendas dos veteranos sem colapsar, criando uma base sólida a cada novo patamar de preço. É por isso que os indicadores de euforia, embora ativos, não mostram a intensidade explosiva do passado — o mercado está se comportando de forma mais madura e sustentável.
A demanda estrutural e a expansão da liquidez global favorecem a extensão do mercado de alta além do ciclo de quatro anos, afirma Leta:
“Levando em conta a somatória destes fatores, me parece que a entrada de novas moedas em circulação tende a arrefecer antes que essas novas fontes de demanda sejam saciadas, e portanto eu acredito que ainda veremos a continuidade deste ciclo de alta por mais tempo e que a lógica dos ciclos de 4 anos do Bitcoin será quebrada.”
Esse cenário só seria invalidado caso as condições de liquidez global se tornem mais restritivas, os saques superem os depósitos nos ETFs e as ‘Bitcoin Treasury Companies’ sejam obrigadas a vender suas participações para cumprir obrigações, conclui o relatório.