A NOS, blockchain de segunda camada do ecossistema do Bitcoin, será oficialmente lançada nesta semana. Usando elementos de Trustless Computer e Optimism, o objetivo da NOS é processar blocos a cada dois segundos, enviando as informações para a blockchain do Bitcoin. Punk 3700, um dos desenvolvedores por trás do projeto, conta ao Cointelegraph Brasil como funciona esta blockchain.
Nova solução de segunda camada
A Trustless Computer (TC) é uma infraestrutura que cria contratos inteligentes e os registra no Bitcoin (BTC). Desta forma, a blockchain da maior criptomoeda em valor de mercado se torna a camada de dados de aplicações descentralizadas (dApps) externas.
Através da TC, que é compatível com o padrão usado para criar aplicações na rede Ethereum, é possível criar aplicações como exchanges descentralizadas, tokens e marketplaces de NFTs.
No dia 1º de junho, Punk 3700 fez uma série de publicações em seu Twitter sobre a fase de testes da NOS, e falou sobre uma limitação técnica que a blockchain do Bitcoin possui: o intervalo de dez minutos entre blocos produzidos. Esta limitação impulsionou a criação de uma blockchain de segunda camada capaz de processar blocos a cada dois segundos.
“Nossa visão é de que a TC é a camada com a linguagem de programação que dá ao Bitcoin a possibilidade de ter contratos inteligentes”, diz Punk 3700 em entrevista ao Cointelegraph Brasil. “A NOS é uma implementação de segunda camada, baseada na Optimism. Qualquer pessoa pode lançar outra blockchain de segunda camada no Bitcoin usando a TC. Você pode, por exemplo, usar a Arbitrum”, completa.
Com base nesta visão, a equipe por trás da Trustless Computer optou por criar uma blockchain de segunda camada em vez de implementar a estrutura de blocos rápidos diretamente na TC.
A relação entre as blockchains funciona como no ecossistema Ethereum. As aplicações criadas na NOS enviam informações para a blockchain de segunda camada, que são transmitidas para a Trustless Computer. A TC, então, registra as informações na blockchain do Bitcoin. O estado da NOS é atualizado através de nós lendo as informações inseridas no Bitcoin.
Esquema de transferência de informações entre NOS, Trustless Computer e Bitcoin. Imagem: NOS/Trustless Computer
Por enquanto, a NOS está em sua fase de testes. Uma das aplicações criadas para testar a capacidade da rede foi um campeonato de xadrez, que chega ao fim nesta segunda-feira (3). O intuito, conta Punk 3700, é mostrar como os movimentos são rapidamente registrados por meio da criação de blocos a cada dois segundos.
Após os testes bem-sucedidos, o desenvolvedor afirma que a mainnet da NOS será lançada nesta semana.
Optimistic rollups no Bitcoin
A NOS se baseia na estrutura de optimistic rollup utilizada pela Optimism. Trata-se de uma solução de escalabilidade do ecossistema Ethereum onde as informações são enviadas de uma blockchain a outra usando o modelo de prova de fraude. Neste modelo, há um intervalo de sete dias para que as transações sejam definitivamente incluídas na blockchain principal.
Usando a relação entre Optimism e Ethereum como exemplo, as transações executadas no optimistic rollup serão registradas definitivamente no Ethereum após uma semana. Esse período é utilizado para contestar transações fraudulentas que podem ter ocorrido na Optimism.
Punk 3700 explica que o mesmo ocorre entre NOS e o Bitcoin. “As transações serão processadas da mesma forma como ocorre na relação entre Ethereum e Optimism. Há um período de sete dias para contestação. Durante este período, qualquer pessoa pode identificar atualizações maliciosas e submeter a prova da fraude”, explica o desenvolvedor.
Ordinals e DeFi no Bitcoin
A inserção de informações na blockchain do Bitcoin ocorre desde seu primeiro bloco, conhecido como ‘Bloco Gênese’. Foi neste bloco que Satoshi Nakamoto deixou uma mensagem referente às complicações vividas pelo mercado financeiro tradicional entre 2008 e 2009.
Mensagem contida no primeiro bloco do Bitcoin. Imagem: Kraken/Twitter
A atualização Taproot, ocorrida em novembro de 2021, potencializou a capacidade de incluir informações no Bitcoin. As mudanças trazidas pela atualização permitiram que arquivos de até 4MB fossem inseridos em transações, inclusive nas menores frações de BTC, conhecidas como satoshi.
Em 21 de janeiro deste ano, no entanto, um salto ainda maior foi dado. O desenvolvedor Casey Rodarmor publicou o software Ord, que deu vida aos Ordinals. O Ord usou a funcionalidade implementada pela Taproot para incluir informações em transações de Bitcoin. Essas inclusões, chamadas Inscrições, podem adicionar imagens, vídeos, áudios e outros arquivos.
Isso permitiu que projetos como a Trustless Computer passassem a usar o Bitcoin como uma camada para inclusão de dados. A TC, por exemplo, cria aplicações descentralizadas e executa transações sobre sua estrutura.
As informações referentes a essas aplicações, no entanto, são registradas na blockchain do Bitcoin. Ou seja, a segurança da TC é garantida pela blockchain da maior criptomoeda em valor de mercado.
Apesar do avanço, um problema ainda persistia: a inexistência de um sistema que unificasse as informações inscritas em diferentes satoshis. O Bitcoin File System (BFS) foi um dos sistemas criados para resolver esta limitação, permitindo que diferentes arquivos se comunicassem.
Conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, a nova forma encontrada para organizar informações registradas no Bitcoin abriu caminho para diferentes possibilidades. Essas possibilidades, como a criação de fazedores de mercado automatizados (AMM, na sigla em inglês) e a comunicação entre contratos inteligentes, têm viabilizado a criação de um ecossistema mais complexo, que usa o Bitcoin como base.
Iniciativas como a NOS representam os mais recentes desenvolvimentos na construção deste novo ecossistema descentralizado.
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