A recente máxima histórica do Bitcoin pode estar ligada aos problemas persistentes no mercado de títulos do Japão, sinalizando possivelmente o crescente reconhecimento do BTC como proteção contra a instabilidade no sistema financeiro tradicional (TradFi).
O preço do Bitcoin (BTC) subiu para uma nova máxima histórica de US$ 112.000 em 22 de maio, antes de recuar e ser negociado acima de US$ 109.700 no momento da redação, em 26 de maio, segundo dados do Cointelegraph.
Embora alguns tenham atribuído o rali a desenvolvimentos geopolíticos — incluindo o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre negociações de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia em 19 de maio —, fatores macroeconômicos parecem estar desempenhando um papel mais relevante, de acordo com analistas de mercado.
Títulos do Japão atingem recorde de rendimento
O chefe de pesquisa europeia da Bitwise, André Dragosch, apontou preocupações crescentes com a perspectiva de crédito soberano do Japão, destacando um salto nos rendimentos dos títulos de longo prazo do país.
O rendimento dos títulos japoneses de 30 anos atingiu uma nova máxima histórica de 3,185% em 20 de maio de 2025, antes de recuar para 3,115% em 23 de maio, segundo dados do TradingView.
Os títulos públicos são geralmente considerados ativos de proteção. No entanto, quando seus rendimentos sobem de forma acentuada, isso costuma indicar preocupações dos investidores com a sustentabilidade fiscal e o risco de inadimplência. A relação dívida/PIB do Japão ultrapassa 250%, em comparação com os 62% da Alemanha — ainda assim, ambos os países apresentavam rendimentos de títulos de 30 anos próximos de 3,1% em 21 de maio, segundo observou a The Kobeissi Letter.
“Como os rendimentos estão subindo, a sustentabilidade se torna uma preocupação maior, o que significa que o risco de crédito aumenta, e, com isso, os rendimentos sobem ainda mais”, afirmou Dragosch. “E assim você entra nesse tipo de ciclo vicioso da dívida fiscal.”
Dragosch afirmou que a crescente volatilidade no mercado de títulos do Japão pode estar levando alguns investidores institucionais a reconsiderar o papel do Bitcoin como proteção contra o risco de calote soberano.
“Isso já está afetando outros mercados de títulos, especialmente o mercado de títulos do Tesouro dos EUA”, acrescentou Dragosch.
Risco soberano impulsiona interesse por cripto
A instabilidade no mercado de títulos do Japão eleva as preocupações com risco de crédito soberano, o que leva a uma maior adoção do Bitcoin entre participantes do TradFi, disse Dragosch ao Cointelegraph. Ele acrescentou:
“O Bitcoin é um ativo imutável. Não possui risco de contraparte. É uma proteção contra risco soberano e calote soberano.”
“O risco de calote percebido continua aumentando, os rendimentos continuam subindo? Esse é um indicativo de por que o Bitcoin pode estar a caminho dos US$ 200.000”, afirmou Dragosch, destacando que essa projeção depende da continuidade da acumulação de Bitcoin por empresas e por detentores de fundos negociados em bolsa (ETFs).
Enquanto isso, os ETFs de Bitcoin spot nos EUA estão a menos de US$ 1,3 bilhão de superar o recorde mensal de entradas de US$ 6,49 bilhões registrado em novembro de 2024, informou o Cointelegraph em 23 de maio.