Em um depoimento perante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras, Mateus Muller, que se identificou como vítima da empresa Atlas Quantum, alegou que a empresa fez diversas doações eleitorais e que deputados haviam recebido valores de Rodrigo Marques, como ex-deputado Vinicius Poit, do Novo de São Paulo, e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Segundo ele, os repasses teriam ocorrido entre 2018 e 2019 e embora não tenha apresentado provas sobre os envios, disse que as informações sobre as doações vieram da ex-diretora financeira da Atlas, Carolina de Almeida Costa, por meio de mensagens que ele repassou aos integrantes da CPI.

“O que me chamou a atenção foi a doação de R$ 600 mil para Jair Messias Bolsonaro através de advogados e pessoas ligadas à diretoria da Atlas Quantum. Sugiro a essa Casa que convoque Carolina de Almeida Costa, que confirmou essa informação, ela era diretora financeira da Atlas, bem como a ex-mulher do Rodrigo [Marques], que também atuava no alto escalão da empresa [Ester Braga].”, disse.

Muller disse ainda que além das doações outros pagamentos teriam sido feito para outras pessoas e afirmou ter uma planilha com pagamentos semanais no valor de mais de um milhão de reais que também irá repassar à CPI. Ele disse acreditar que as doações a políticos tinham por objetivo blindar a Atlas de investigações.

“As autoridades nunca se posicionaram de forma eficaz para investigar e trazer alguma luz para quem esperava uma resposta. Então somente depois de muitos dias e horas de conversa com Beatriz [Braga, ex-mulher de Rodrigo Marques], a mesma informou que talvez poderia ter o motivo desta morosidade e dessa falta de empenho das autoridades. E a mesma está disposta a comparecer [à CPI], desde que garantam a segurança dela, e trazer todas as provas da relação de Rodrigo Marques com deputados e outras autoridades.”, afirmou.

Pagamentos da Atlas Quantum

O deputado Alfredo Gaspar (União-AL) questionou o depoente sobre provas das denúncias que fez. Como testemunha, Mateus Muller é obrigado a dizer a verdade, sob risco de ser acusado de falso testemunho, como explicou o parlamentar.

“Aqui nada é jogado ao vento, quais são as provas que o senhor tem sobre essas autoridades citadas? Deixa eu te dizer uma novidade, o senhor não pode calar a verdade. Quem são as autoridades citadas? Se o senhor calar a verdade, o senhor responde por falso testemunho. Se o senhor falar, o senhor está isento de qualquer responsabilidade, porque o senhor tem a obrigação de falar. Portanto, a orientação do seu advogado de o senhor não dizer o nome dos citados lhe levará aqui à cadeia.”, disse.

O depoente reafirmou já haver dito todos os nomes que conhecia e insistiu que os deputados convoquem a ex-funcionária da Atlas, Carolina Costa, e a ex-mulher de Rodrigo Marques, Ester Braga, que teriam mais informações.

Mateus Muller se apresenta como líder do Grupo Valquíria, formado por vítimas da Atlas que investiga os fundadores da empresa desde que sofreram os golpes. Segundo relatou, o grupo é composto por mais de 400 investidores que teriam perdido cerca de R$ 110 milhões de reais.

Nas investigações que realizou, de acordo com Mateus Muller, o Grupo Valquíria encontrou e-mail com contratos em que um cliente recebia comissão quando indicava outro cliente, o que indicaria a existência de um esquema de Pirâmide Financeira. Segundo disse, ele teve acesso a 68 caixas de arquivos da Atlas Quantum e analisou cerca de 40 mil páginas de documentos da empresa.

A CPI das Pirâmides Financeiras deve se reunir novamente nesta quinta, 14, quando devem comparecer o diretor-geral da Binance no Brasil, Guilherme Haddad Nazar, e o presidente da empresa Hotel Urbano, João Ricardo Rangel Mendes.

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