Um movimento coordenado de empreendedores locais, com apoio dos governos federal e provincial, pretende transformar Buenos Aires, capital da Argentina, em um polo global de inovação da indústria de criptomoedas, blockchain e Web3 na América Latina, com a criação do "Blockchain Valley."

A iniciativa surgiu a partir da associação de líderes de diversas empresas argentinas criptonativas, incluindo as exchanges Ripio e Lemon Cash, em torno de um movimento batizado como "Crecimiento", que significa "crescimento" em espanhol. 

O movimento surge em um momento favorável ao desenvolvimento da indústria no país. Segundo reportagem publicada pelo The Defiant, o "Crecimiento" conta com o apoio informal do presidente liberal eleito no ano passado, Javier Milei. 

Com o apoio da classe política em instâncias nacionais e provinciais, o movimento já teria realizado reuniões promissoras com representantes do governo, que, a princípio, se mostraram abertos à proposta de criação de uma zona econômica pró-cripto em Buenos Aires.

A implantação do "Blockchain Valley" na capital argentina visa criar um ambiente favorável para empreendedores e inovadores do setor, oferecendo incentivos fiscais, linhas de crédito e financiamento, além de promover um ambiente regulatório propício para empresas e startups de tecnologia.

Como resultado, o objetivo do "Crecimiento" é atrair entre 5 e 10 milhões de novos usuários, promovendo a expansão do ecossistema de blockchain e Web3 no país, além de impulsionar ainda mais a adoção das criptomoedas no país.

Aleph: uma pop-up city no coração de Buenos Aires

Formalizado em abril deste ano, o "Crecimiento" vai promover seu primeiro empreendimento de larga escala no mês que vem. Entre 5 de agosto e 1º de setembro, o tradicional bairro de Palermo, na capital Argentina, servirá de base para uma "pop-up city."

As "pop-up cities" são eventos imersivos nos quais membros da comunidade cripto se reúnem por tempo limitado para trabalhar em projetos comuns e trocar ideias sobre novas tecnologias e inovação.

Um conceito relativamente novo no espaço, as "pop-up cities" se converteram em um novo paradigma de organização social para criptonativos após uma iniciativa pioneira que contou com o financiamento de Vitalik Buterin, cofundador da Ethereum (ETH), em maio do ano passado.

Por dois meses, um grupo de 200 pessoas se reuniu em uma cidade no litoral do Mar Adriático, em Montenegro, no leste europeu, para discutir assuntos relacionados a criptografia, inteligência artificial (IA), estados em rede e outros assuntos ligados à tecnologia, e ao mesmo tempo participar de atividades ao ar livre e interagir com a cultura local.

Batizada como "Aleph – Ciudad de Crecimiento", a pop-up city portenha servirá como uma espécie de laboratório prévio à implementação do projeto do "Blockchain Valley." Um espaço onde desenvolvedores, empreendedores, investidores e entusiastas da comunidade global de criptomoedas poderão se reunir, colaborar e trocar experiências orientadas para a criação de novos negócios e aplicações baseados na inovação tecnológica e financeira promovida pela Web3 e a tecnologia blockchain.

Fonte: aleph.crecimiento.build

Inspirada no modelo de Zuzalu, os eventos que ocorrerão em Aleph estão divididos em seis módulos temáticos: três dedicados a negócios – cripto, startups e "Crecimiento; e três relacionados a atividades de lazer – bem estar, cultura e eventos.

Em seus 25 dias de existência, os integrantes do "Crecimiento" esperam que Aleph possa contribuir para a construção de uma comunidade em rede, coesa e engajada para o desenvolvimento e a aceleração da implementação do "Blockchain Valley."

"Blockchain Valley"

Aleph representa o primeiro passo para a criação de uma zona econômica de criptomoedas em Buenos Aires. No entanto, o "Crecimiento" tem foco no longo prazo e almeja contribuir para a recuperação econômica e a transformação digital da Argentina.

O custo mínimo estimado para viabilizar a criação do "Blockchain Valley" na capital argentina é de US$ 2,5 milhões a US$ 3 milhões, de acordo com James Tunningley, arquiteto de ecossistema do Protocol Labs, uma incubadora de projetos de tecnologia que está trabalhando na captação de recursos para viabilizar a iniciativa.

A soma será investida na criação da infraestrutura e no suporte administrativo e técnico necessários para que startups e empreendedores locais – e até mesmo estrangeiros que desejem se estabelecer no país – possam prosperar. Isso inclui a criação de hubs de co-working, bootcamps e aceleradoras.

De acordo com o projeto do "Crecimiento", o espaço de co-working será um espaço de trabalho colaborativo projetado para acomodar até 300 pessoas, com acesso a internet de alta velocidade, salas de reunião, áreas de descanso e eventos de networking. A instalação de um espaço aberto, dinâmico e flexível visa promover o intercâmbio de ideias e a criatividade entre investidores, empresários, desenvolvedores. 

Os bootcamps serão programas intensivos de treinamento focados em capacitar e suprir as necessidades específicas dos empreendedores locais. Ao passo que as aceleradoras oferecerão suporte para startups em estágios inicial e intermediário de desenvolvimento, contribuindo para ajudá-las a escalar seus negócios de forma sustentável.

A combinação dessas iniciativas visa criar um ecossistema de inovação robusto e sustentável, capaz de atrair talentos e investimentos de todo o mundo para a Argentina, afirmam os líderes do "Crecimiento."

Crises econômicas favorecem adoção de criptomoedas na Argentina

O ecossistema de criptomoedas da Argentina tem se destacado como um dos mais dinâmicos e resilientes da América Latina. Com uma inflação fora de controle e mais de 55% da população vivendo abaixo do nível de pobreza, o povo argentino adotou as criptomoedas como uma alternativa viável para proteção de patrimônio

Por sua vez, as sucessivas crises econômicas, a instabilidade financeira e a falta de confiança nas instituições fomentaram o surgimento de um vibrante ecossistema de startups e projetos inovadores. Empresas como a exchange Lemon Cash e projetos globais como OpenZeppelin e Decentraland (MANA), têm suas raízes na Argentina. 

Uma pesquisa recente da Triple A revelou que a Argentina é o quarto país com o mais alto percentual de detentores de criptomoedas do mundo, atrás apenas de Emirados Árabes Unidos, Singapura e Turquia, e o primeiro da América Latina.

Essas condições inspiram a iniciativa do "Crecimiento" para posicionar a Argentina como um hub global de inovação em blockchain e criptomoedas, com potencial para liderar a transformação digital da Web3 na América Latina.

Conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, a adoção de criptomoedas cresceu ainda mais na Argentina recentemente em função do pico de inflação de 276% ao ano registrado já sob o governo Milei.