Conseguir um emprego no setor cripto pode ser mais difícil do que nunca. A ascensão da IA atraiu os outrora abundantes financiamentos de capital de risco e, com uma indústria mais madura, as empresas cripto estão agora mais criteriosas do que nunca.
Um recente programa de estágio de verão da Coinbase tinha espaço para apenas 0,3% dos candidatos, segundo o CEO da Coinbase, Brian Armstrong, demonstrando o nível de interesse em comparação com as vagas disponíveis.
O fundador do CryptoJobsList, Raman Shalupau, e a pesquisadora Stefi Kiemeney disseram ao Cointelegraph que frequentemente veem anúncios de vagas com mais de 200 candidatos disputando uma única posição.
Mas como superar a concorrência? O que a maioria dos candidatos a empregos cripto está fazendo de errado?
O Cointelegraph conversou com alguns profissionais do setor para descobrir os erros mais comuns que os candidatos a empregos cripto estão cometendo — e como evitá-los. Veja o que eles disseram.
Eles não “arregaçaram as mangas” e construíram algo on-chain
Falando ao Cointelegraph, o CEO da Proof of Search, Kevin Gibson, disse que há muitos “entusiastas de cripto” por aí, mas poucos realmente estão construindo.
“Talvez eles tenham comprado e vendido alguns tokens, adquirido um ou dois NFTs, lido alguns artigos ou passado por threads no X ou posts no LinkedIn. Mas normalmente para por aí”, disse ele.
“Eles realmente não arregaçaram as mangas e colocaram a mão na massa com a tecnologia de uma forma que seja útil para trabalhar em um protocolo ou empresa de cripto.”
As observações de Gibson ecoam comentários semelhantes feitos há cerca de um mês por Neil Dundon, fundador da CryptoRecruit, no LinkedIn.
“Se seu currículo diz Web3, mas sua carteira diz 0x000, eu tenho perguntas”, disse Dundon, acrescentando:
“Se você não vive no espaço, por que um fundador confiaria em você para construir nele?”
Embora demonstrar atividade on-chain seja um passo na direção certa, Gibson disse que a prova mais clara de trabalho real com cripto é uma conta ativa no GitHub:
“Se você pode apontar para seu GitHub e mostrar que realmente entregou projetos diferentes, contribuiu com código ou colaborou com outros, isso é enorme.”
Para aqueles que não estão buscando se tornar magos on-chain, Gibson disse que publicar conteúdo, contribuir para uma organização autônoma descentralizada ou demonstrar algum tipo de envolvimento com a comunidade é essencial.
Ainda existem oportunidades em funções cripto não técnicas — como finanças, marketing e operações — mas Shalupau e Kiemeney observaram que desenvolvedores Rust, engenheiros de contratos inteligentes e especialistas em criptografia de conhecimento zero estão entre as habilidades mais demandadas.
Eles construíram algo, mas não conseguem explicar
Pode ser um estereótipo que pessoas técnicas são frequentemente más comunicadoras, mas recrutadores disseram que muitos talentos técnicos têm dificuldade em explicar seu trabalho durante a entrevista, o que enfraquece seus projetos e diminui suas chances de contratação.
“As empresas querem pessoas que saibam construir e explicar o que estão construindo em linguagem simples”, disseram Shalupau e Kiemeney, do CryptoJobsList.
Gibson disse que já conduziu entrevistas nas quais alguns desenvolvedores não conseguiam responder perguntas básicas:
“Frequentemente pergunto coisas como: ‘Qual foi a última coisa que você fez on-chain?’ ou ‘Como você mantém sua carteira segura?’ e você ficaria surpreso com quantas pessoas travam nas perguntas mais básicas.”
Currículos genéricos gerados por IA
Empresas de cripto usam o processo de inscrição para aprender mais sobre os candidatos e querem ver candidaturas genuínas e escritas por humanos — não geradas por IA.
“Não use IA durante o processo de candidatura — é mais fácil de detectar do que você imagina e você será desclassificado instantaneamente”, disseram Shalupau e Kiemeney.
Eles também aconselharam os candidatos a não “dispararem” currículos genéricos durante as entrevistas — incentivando-os, em vez disso, a focar em como usaram a stack de tecnologia da empresa ou, pelo menos, demonstrar uma compreensão clara dela.
“Faça seu dever de casa. Estude o projeto antes de se candidatar.”
Estão focados nos setores errados de cripto
Muitos candidatos também focam em setores que estavam em alta em 2021, mas que hoje estão longe de seu auge.
Segundo Shalupau e Kiemeney, empresas de stablecoins, infraestrutura de finanças descentralizadas e tokenização de ativos do mundo real estão “contratando de forma constante” neste momento, enquanto o hype em torno de mercados de tokens não fungíveis (NFTs) e jogos play-to-earn já “se esgotou”.
A dupla se referiu às vendas de terrenos no metaverso como “mortas” e disse que, embora empresas ainda estejam construindo mundos virtuais, “o modelo de negócio especulativo de compra de terras já era”.
No início desta semana, a principal plataforma de metaverso Sandbox anunciou que estava demitindo funcionários, enquanto seus dois fundadores migraram para cargos estratégicos.
Mas nem tudo é culpa dos candidatos a empregos cripto, disseram eles.
A FTX prejudicou a reputação da cripto enquanto a IA decolava
Infelizmente, a cripto sofreu seu momento Lehman Brothers com o colapso catastrófico da FTX em novembro de 2022, justamente quando a OpenAI transformava o setor de IA ao tornar modelos de linguagem grande conversacionais e amplamente acessíveis — marcando o início de uma grande mudança nas oportunidades de emprego da cripto para a IA.
Desde então, a IA atraiu talentos e capital significativos da cripto, disseram Shalupau e Kiemeney. “Desenvolvedores e empreendedores seguem o dinheiro e o entusiasmo, e neste momento a IA está absorvendo ambos.”
O financiamento para cripto atingiu o pico de US$ 29 bilhões em 2021, seguido por US$ 28,5 bilhões em 2022 — mas os números caíram drasticamente desde 2023, com o financiamento combinado dos últimos dois anos e meio não atingindo o total de 2022, segundo a RootData.
Enquanto isso, empresas cripto arrecadaram fundos em apenas 547 rodadas em 2025 — o que está no caminho para ser o total mais baixo desde 2020 — indicando que empresas de capital de risco estão fazendo apostas maiores em menos startups.
Mercado de trabalho em cripto é suscetível ao macro
Contratações no setor cripto também são altamente sazonais e influenciadas pelo clima macroeconômico, disse Zackary Shelly, chefe de talentos da Dragonfly, no X no início deste mês.
Analisando dados do portfólio cripto da empresa de capital de risco, mais de 300 novas vagas em cripto foram publicadas em janeiro, um aumento de 60% em relação ao mês anterior. Em fevereiro, no entanto, as postagens caíram 60% à medida que os preços do cripto recuaram diante de intensas discussões sobre tarifas dos EUA.
750 cargos em cripto foram cortados em março — a maior queda mensal já registrada — com posições de desenvolvimento de negócios, atendimento ao cliente e marketing sendo as mais afetadas, observou Shelly, enquanto funções em ciência de dados e engenharia foram menos impactadas.
“Mesmo quando o sentimento muda, esses mercados mantêm demanda ao longo dos ciclos — sempre competitivos, seja em alta ou em baixa”, disse Shelly sobre as funções mais técnicas.
Apesar do que os dados da Dragonfly sugerem, Shalupau e Kiemeney, do CryptoJobsList, disseram que, embora seja mais difícil entrar no setor do que antes, os empregos em cripto estão geralmente mais seguros do que antes.
“Estamos vendo menos anúncios de vagas do que no pico de 2021, mas a qualidade é maior. As empresas agora contratam com foco em sustentabilidade, não apenas por hype”, enquanto “na última alta, havia uma mentalidade de ‘contrata primeiro, resolve depois’”, disseram, referindo-se a empresas de primeira linha.
“Desta vez, os orçamentos são mais apertados, as equipes são menores e as contratações são mais intencionais.”
No entanto, empresas em estágio inicial “ainda são enxutas” e não têm um processo estruturado de contratação, observaram Shalupau e Kiemeney.
Procure melhor para encontrar o candidato certo
Dundon também aconselhou as empresas cripto a buscarem ativamente os melhores talentos, em vez de apenas publicarem em sites de emprego e esperarem que o candidato ideal apareça.
“Os melhores candidatos não preenchem formulários de inscrição. Eles não estão navegando por sites de vagas. Eles estão ocupados construindo. Eles são descobertos. Porque já estão fazendo o trabalho que merece ser notado”, disse o recrutador nesta postagem.
“Se toda a sua estratégia de contratação é ‘publicar e rezar’… você nunca vai encontrá-los.”