Três redes de contratos inteligentes rivais da Ethereum (ETH) que lideraram o mercado de alta de 2021 atingiram mínimas históricas em relação ao Bitcoin (BTC) recentemente e correm o risco de ter seus tokens rebaixados a valores insignificantes e até mesmo a zero, segundo analistas.

Cardano (ADA), Polkadot (DOT) e Cosmos (ATOM) despontaram durante o ciclo de alta de 2021 com propostas tecnológicas alternativas à Ethereum, visando solucionar os problemas de escalabilidade e eficiência da rede líder de contratos inteligentes.

Propondo abordagens diferentes para solucionar o mesmo problema, as redes de camada 1alternativas atraíram a atenção de investidores com suas promessas de inovação.

O capital direcionado às potenciais "Ethereum Killers" fez com que ADA, DOT e ATOM figurassem no top 10 do ranking de criptomoedas por capitalização de mercado em 2021, quando atingiram suas máximas históricas tanto em seus pares com o dólar quanto com o Bitcoin.

Desde então, os tokens nativos das três redes vêm acumulando perdas significativas e, ao contrário do Bitcoin e do próprio Ether, não conseguiram se recuperar.

A queda no valor dos tokens é resultante de tokenomics mal projetados, atrasos no desenvolvimento do ecossistema e adoção de soluções ineficientes.

Polkadot (DOT)

Atualmente em seu patamar histórico mais baixo em relação ao Bitcoin, a Polkadot investiu em uma arquitetura multi-chain para solucionar problemas de escalabilidade e ineficiência na execução de transações, idealizada por Gavin Wood, um dos cofundadores da Ethereum.

Gráfico mensal DOT/BTC. Fonte: TradingView

O modelo adotado pela Polkadot conecta diferentes blockchains (parachains) que operam em paralelo a partir de uma camada base (Relay Chain), permitindo a transferência de qualquer tipo de dado ou ativo entre aplicações distintas.

A Polkadot também instituiu um sistema de governança on-chain que permite aos detentores de DOT votarem em propostas de atualização e mudanças na rede, garantindo que a evolução da rede seja conduzida de maneira mais descentralizada e democrática do que a de seus concorrentes.

No entanto, o modelo de leilão de parachains adotado pela Polkadot para construção do seu ecossistema mostrou-se economicamente ineficiente e poucos projetos acabaram ganhando tração no mercado.

Em uma comparação no par com o dólar, o DOT é o maior perdedor. Cotado a US$ 5,71, de acordo com dados da CoinGecko, o DOT acumula uma desvalorização de 89% desde a máxima histórica de US$ 54,98, registrada em 4 de novembro de 2021.

Cardano (ADA)

Em segundo lugar nesse ranking desonroso, o token nativo da Cardano ainda está levemente acima de suas mínimas históricas em relação ao Bitcoin. Já o par ADA/USD está cotado a US$ 0,38, de acordo com dados da CoinGecko, 87% abaixo do topo de US$ 3,09, alcançado em 2 de setembro de 2021.

Gráfico mensal ADA/BTC. Fonte: TradingView

Igualmente fundada por um dos criadores da Ethereum, Charles Hoskinson, a Cardano emergiu como uma rede baseada em amplos estudos científicos e propunha um modelo de consenso de prova-de-participação (PoS). Vale lembrar que, na época, a Ethereum ainda utilizava a prova-de-trabalho (pow) como modelo de consenso, incorrendo em um consumo energético excessivo que atraía críticas de ambientalistas.

Com uma arquitetura estruturada em camadas que separam a camada de liquidação (transações) da camada de computação, em tese a Cardano deveria proporcionar maior flexibilidade e segurança aos desenvolvedores e usuários, facilitando a implementação de inovações tecnológicas.

No entanto, os atrasos constantes em seu roadmap e a baixa atração de usuários ativos e capital, vem relegando à rede ao segundo plano. Especialmente em função dos avanços de concorrentes como Solana (SOL), The Open Network (TON) e Avalanche (AVAX).

Cosmos (ATOM)

"Menor" perdedor entre as três redes, a Cosmos mantém um ecossistema ativo e operante, que abriga soluções cujas inovações tecnológicas e as perspectivas de adoção são interessantes. Casos de Celestia (TIA) e Eigen Layer (EIGEN).

O protocolo Inter-Blockchain Communication (IBC) da Cosmos promove a interoperabilidade entre diferentes blockchains, permitindo a comunicação e transferência de dados entre redes distintas. Além disso, o mecanismo de consenso da Cosmos facilita a criação de blockchains independentes e interoperáveis.

O declínio do ATOM se deve à pouca utilidade do token no ecossistema mais amplo da rede, e, em menor grau, ao colapso do protocolo DeFi Terra Luna em maio de 2022 – o maior projeto abrigado na Cosmos.

O par ATOM/BTC acaba de renovar suas mínimas históricas. Em dólares, o ATOM é negociado a US$ 6,87, de acordo com dados da CoinGecko, acumulando perdas de 84% desde que atingiu o recorde histórico de preço de US$ 44,45 em 17 de janeiro de 2022.

Gráfico mensal ATOM/BTC. Fonte: TradingView

A título de comparação, Bitcoin e Ethereum estão 12% e 28% abaixo de suas respectivas máximas históricas em dólares, registradas em março deste ano e em novembro de 2021.

Desempenho de DOT, ATOM e ADA em dólares em comparação com o Bitcoin desde o topo do ciclo de alta de 2021. Fonte: TradingView.

Futuro dos preços de ADA, DOT e ATOM

Cardano, Polkadot e Cosmos ainda possuem capitalizações de mercado significativas – US$ 13,5 bilhões, US$ 7,8 bilhões e US$ 2,6 bilhões, respectivamente – e devem implementar atualizações importantes em breve, avançando em seus roadmaps

Ainda assim, é pouco provável que seus tokens nativos recuperem os patamares alcançados durante o topo de 2021 no atual mercado de alta, tanto em relação ao Bitcoin quanto ao dólar, acredita Felipe Medeiros, fundador do Boteco Cripto.

Em depoimento ao Cointelegraph Brasil, Medeiros afirmou que a alta dos tokens em 2021 foi impulsionada pela aceitação do mercado de de que todos eles apresentavam bons fundamentos e poderiam de fato competir com a Ethereum.

No entanto, no atual ciclo de alta, a dinâmica do mercado de criptomoedas mudou e a busca pelas melhores oportunidades de investimento é ditada pela força das narrativas, e não por fundamentos técnicos ou potenciais inovações tecnológicas. Daí a ascensão das memecoins e de narrativas novas, especialmente memecoinsinteligência artificial (AI) e ativos do mundo real (RWA), explica o analista.

A entrada constante de novos tokens no mercado tem sido outra característica marcante do ciclo atual, resultando em uma dispersão da liquidez que dificulta a retomada da alta de tokens de alta capitalização de mercado, como é o caso de ADA, DOT e ATOM.

Por fim, mas não menos importante, há menos liquidez disponível no mercado nesse momento devido ao patamar elevado em que estão fixadas as taxas de juros nos Estados Unidos, afirma Medeiros:

"A gente está em um estágio do mercado em que os traders estão basicamente rotacionando um dinheiro que já está investido entre diversos ativos, enquanto no ciclo passado houve uma grande injeção de liquidez nos mercados financeiros, de modo geral."

Essa nova dinâmica não favorece os tokens de Cardano, Polkadot e Cosmos, conclui o analista:

"Eu acho muito difícil e improvável que esses ativos voltem a renovar máximas históricas, pois o mercado está de fato olhando para novas narrativas. A quantidade de capital que essas criptomoedas precisam para retornar aos patamares anteriores se tornaram ainda maiores porque desde o ciclo passado houve um aumento do suprimento em circulação. Eu não vejo nesse ciclo uma condição de liquidez disponível capaz de gerar o nível de irracionalidade necessário para que ativos como esses voltem a alcançar de US$ 50 bilhões US$ 100 bilhões de capitalização de mercado como no ciclo passado."

Cardano, Polkadot e Cosmos podem virar redes zumbis?

Já o analista Orlando Telles, fundador do On Crypto Pro, sugere que as três altcoins correm o risco de se tornarem irrelevantes diante do avanço de outras redes de camada 1 amplamente adotadas pelo mercado.

Projetando o futuro da Cardano, especificamente, Telles citou o exemplo da EOS, uma rede cujo crescimento também foi impulsionado pela narrativa de "Ethereum Killers" durante o ciclo de alta de 2017:

"EOS era considerado um dos projetos mais promissores em 2017. Na época, o preço estourou, quando ele chegou a bater os US$ 22. Em 2021, muita gente comprou o topo local de EOS a US$ 15. Quem segurou essa posição esperando por uma recuperação, viu o token praticamente ir a zero."

Depois de figurar no top 10 por um bom período de tempo entre 2017 e 2020, o EOS foi perdendo valor e hoje está cotado a US$ 0,57, de acordo com dados da CoinGecko. Embora ainda ostente mais de US$ 1 bilhão em capitalização de mercado, é improvável que o token volte aos seus níveis mais altos, mesmo durante um eventual pico do atual ciclo de alta do mercado.

Telles conclui a sua análise dizendo que não é recomendável manter posições em criptomoedas fortemente desvalorizadas à espera de uma possível recuperação visando minimizar eventuais prejuízos, pois isso implica em abrir mão de maximizar ganhos ou mesmo minimizar perdas investindo em ativos com fundamentos mais sólidos de narrativas emergentes.