O Conselho Supremo da Sangha tailandês voltou a reafirmar a antiga proibição que impede os monges budistas de atuarem como videntes da lotaria, ou de fazerem parte de atividades relacionadas com qualquer tipo de apostas.
Esta decisão surge num momento em que a Tailândia está a enfrentar uma vaga de escândalos envolvendo membros do clero budista.
Desse modo, trata-se de um problema que levanta sérias questões relativamente à integridade dos monges. Note-se também que a lotaria está bastante presente na cultura da Tailândia.
Uma proibição que existe há mais de 100 anos
De fato, esta proibição não é uma novidade, mas sim o reafirmar de uma regra que existe desde o século XIX.
Foi em 1860, que o Rei Rama IV emitiu um decreto real que proibia os monges de se envolverem em atividades relacionadas com lotaria.
Além disso, Rama IV também proibiu os monges de consumirem álcool e de frequentarem locais noturnos.
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Curiosamente, o regulamento era preciso ao ponto de decretar a proibição de os monges se disfarçarem de leitos para apostar.
Na altura, o Rei estabeleceu estas regras com o intuito de preservar a reputação moral do budismo.
Em termos formais, foi em 1955 que o Conselho da Sangha criou uma norma específica para garantir que os monges não se envolvessem em previsões dos números da lotaria.
Quem infringir a proibição fica sujeito a ações disciplinares que podem resultar até na expulsão da ordem monástica.
Assim, esta regra vigora há décadas, tendo sido agora reforçada devido ao aumento de casos de monges que violam estas diretrizes.
O peso da lotaria na sociedade tailandesa
Para os tailandeses, a lotaria é muito mais do que um jogo de sorte e azar. É uma verdadeira paixão nacional, que está bastante entranhada na sociedade do país.
Aproximadamente 19,2 milhões dos 67 milhões de tailandeses jogam na lotaria governamental, gastando cerca de 76 mil milhões de baht anuais (2,3 mil milhões de dólares americanos).
Estudos realizados sobre este fenómeno demonstram que mais de cinco milhões de tailandeses são viciados na compra de bilhetes de lotaria.
A grande atração por este jogo não incide apenas no desejo de ganhar uma avultada de dinheiro.
Existe todo um aspeto associada à superstição e espiritualidade, envolvendo até rituais na escolha dos números.
Assim, é frequente que os jogadores visitem templos, por forma a procurarem obter conselhos dos monges, ou até de realizarem cerimónias destinadas a pedir sorte.
É exatamente esta combinação de espiritualidade com superstição que faz com que existe tanta pressão sobre os monges relativamente a esta questão.
Ainda recentemente, o templo Wat Nong Thong na província de Sukhothai ganhou fama por alegadamente ter previsto corretamente os números da lotaria quatro vezes consecutivas.
Supostamente, o ritual envolve ‘água sagrada milagrosa’. A cerimónia é conduzida pelo monge Phra Achan Mu, que determina os números a partir das formas que são sendo criadas pela cera ou pó de ervas que vão caindo na água.
Sequência de escândalos abalam a confiança
Curiosamente, este reforço da proibição acontece num momento em que vários escândalos estão a perturbar a comunidade budista na Tailândia.
O caso mediático mais sonante envolveu onze monges e uma mulher conhecida como ‘Miss Golf’, tendo resultado na destituição de seis monges seniores por alegadas atividades sexuais e chantagem.
Este escândalo levou o Conselho Supremo da Sangha a criar uma comissão especial para rever as regulamentações monásticas.
Similarmente, estão a ser promovidas investigações contra monges com hierarquia elevada, por alegados desfalques de centenas de milhões de baht em fundos de doações destinados à construção de instalações religiosas.
Em suma, foi o acumular de escândalos que levou as autoridades budistas a apertarem as regras, incluindo a proibição de os monges se envolverem na área do jogo.
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