Principais pontos

  • O padrão de precificação do Bitcoin impulsionado pelo halving, que moldou a história inicial do ativo, vem perdendo força. À medida que mais BTC entra em circulação, cada halving passa a ter um impacto relativo menor.

  • Segundo a Grayscale, o mercado atual do Bitcoin é moldado mais pelo capital institucional do que pela especulação de varejo que definiu os ciclos anteriores.

  • Diferentemente das altas explosivas de 2013 e 2017, a recente valorização do Bitcoin foi mais controlada. A Grayscale observa que a queda posterior de 30% se assemelha a uma correção típica de mercado de alta.

  • Expectativas de juros, o avanço regulatório bipartidário das criptomoedas nos Estados Unidos e a integração do Bitcoin a portfólios institucionais estão moldando cada vez mais o comportamento do mercado.

Desde que surgiu, o preço do Bitcoin (BTC) seguiu um padrão previsível. Um evento programado reduz pela metade a oferta de novos Bitcoins, criando escassez. Isso costuma ser seguido por períodos de forte valorização e, depois, por correções. Essa sequência repetitiva, amplamente conhecida como ciclo de quatro anos, influenciou fortemente as expectativas dos investidores desde os primeiros dias do Bitcoin.

Uma análise recente da Grayscale, apoiada por dados on-chain da Glassnode e por insights sobre a estrutura de mercado da Coinbase Institutional, traz uma visão diferente sobre o caminho do preço do Bitcoin. Ela indica que o comportamento do preço do ativo em meados da década de 2020 pode estar indo além desse modelo tradicional. Os movimentos de preço do Bitcoin parecem ser cada vez mais influenciados por fatores como a demanda institucional e as condições econômicas mais amplas.

Este artigo explora a visão da Grayscale de que o modelo do ciclo de quatro anos está perdendo sua capacidade de explicar plenamente os movimentos de preço. Ele discute a análise da Grayscale sobre os ciclos do Bitcoin, as evidências de apoio da Glassnode e por que alguns analistas ainda acreditam que o Bitcoin continuará seguindo o ciclo de quatro anos.

O ciclo tradicional de quatro anos

Os halvings do Bitcoin, que ocorrem aproximadamente a cada quatro anos, reduzem em 50% a emissão de novos BTC. No passado, essas reduções de oferta antecederam de forma consistente grandes mercados de alta:

  • Halving de 2012 — topo em 2013

  • Halving de 2016 — topo em 2017

  • Halving de 2020 — topo em 2021

Esse padrão surgiu tanto do mecanismo embutido de escassez quanto da psicologia dos investidores. Os traders de varejo eram os principais impulsionadores da demanda, e a oferta reduzida levou a fortes movimentos de compra.

No entanto, como uma parcela cada vez maior da oferta fixa de 21 milhões de Bitcoins já está em circulação, cada halving passa a ter um impacto relativo progressivamente menor. Isso levanta questionamentos sobre se apenas os choques de oferta ainda conseguem dominar o ciclo.

Você sabia? Desde 2009, os halvings ocorreram em 2012, 2016, 2020 e 2024. Cada um reduziu permanentemente a taxa de inflação do Bitcoin e aproximou a emissão anual de zero, além de reforçar a narrativa de escassez digital do BTC entre detentores de longo prazo e analistas.

A avaliação da Grayscale sobre os ciclos do Bitcoin

A Grayscale concluiu que o mercado atual difere de forma significativa dos ciclos passados em três aspectos:

Demanda dominada por instituições, não por euforia de varejo

Os ciclos anteriores dependiam de compras fortes por parte de investidores individuais em plataformas de varejo. Hoje, os fluxos de capital são cada vez mais impulsionados por fundos negociados em bolsa (ETFs), balanços corporativos e fundos de investimento profissionais.

A Grayscale observa que os veículos institucionais atraem capital paciente e de longo prazo. Isso contrasta com o trading rápido e movido pela emoção visto em 2013 e 2017.

Ausência de um rali antes da queda

Os topos do Bitcoin em 2013 e 2017 foram marcados por altas extremas e insustentáveis, seguidas por colapsos. Em 2025, segundo a Grayscale, a alta dos preços foi muito mais controlada, e a queda posterior de 30% se parece mais com uma correção típica de mercado de alta do que com o início de um mercado de baixa de vários anos.

Ambiente macro que importa mais do que os halvings

Nos primeiros anos do Bitcoin, os movimentos de preço eram em grande parte independentes das tendências econômicas globais. Em 2025, o Bitcoin passou a ser sensível às condições de liquidez, à política fiscal e ao sentimento de risco institucional.

Entre as principais influências citadas pela Grayscale estão:

  • Mudanças esperadas nas taxas de juros

  • Crescente apoio bipartidário à legislação cripto nos Estados Unidos

  • Inclusão do Bitcoin em portfólios institucionais diversificados.

Esses fatores macro exercem influência independentemente do cronograma de halving.

Você sabia? Quando as recompensas de bloco são reduzidas pela metade, os mineradores recebem menos BTC pelo mesmo trabalho. Isso pode levar mineradores com custos mais altos a pausar as operações temporariamente, o que frequentemente resulta em quedas de hashrate no curto prazo antes da rede se reequilibrar.

Dados da Glassnode mostram rompimento com os padrões clássicos de ciclo

A pesquisa on-chain da Glassnode mostra que o preço do Bitcoin apresentou vários desvios em relação às normas históricas:

  • A oferta nas mãos de detentores de longo prazo está em níveis historicamente elevados: os detentores de longo prazo controlam uma parcela maior da oferta circulante do que em qualquer outro momento. A acumulação contínua limita a quantidade de Bitcoin disponível para negociação e reduz o efeito de choque de oferta normalmente associado aos halvings.

  • Volatilidade reduzida apesar das quedas: embora correções de preço relevantes tenham ocorrido no fim de 2025, a volatilidade realizada permaneceu bem abaixo dos níveis vistos em pontos de virada de ciclos anteriores. Isso é um sinal de que o mercado está lidando com grandes movimentos de forma mais eficiente, muitas vezes devido à maior participação institucional.

  • ETFs e demanda por custódia remodelam a distribuição da oferta: dados on-chain mostram crescimento nas transferências para carteiras de custódia ligadas a ETFs e produtos institucionais. As moedas mantidas nessas carteiras tendem a permanecer inativas, reduzindo a quantidade de Bitcoin que circula ativamente no mercado.

Um ciclo do Bitcoin mais flexível e ligado ao macro

Segundo a Grayscale, o comportamento do preço do Bitcoin está se desvinculando gradualmente do modelo de quatro anos e se tornando mais sensível a:

  • Capital institucional estável de longo prazo

  • Ambientes regulatórios em aprimoramento

  • Liquidez macroeconômica global

  • Demanda sustentada relacionada a ETFs

  • Um grupo crescente de detentores de longo prazo comprometidos

A Grayscale ressalta que correções continuam sendo inevitáveis e ainda podem ser severas. No entanto, elas não sinalizam automaticamente o início de um mercado de baixa prolongado.

Você sabia? Após cada halving, a taxa de inflação do Bitcoin cai de forma acentuada. Depois do halving de 2024, a inflação anual da oferta ficou abaixo da de muitas grandes moedas fiduciárias, reforçando sua comparação com commodities escassas como o ouro.

Por que alguns analistas ainda acreditam nos padrões de halving

Alguns analistas, frequentemente citando as sobreposições históricas de ciclos da Glassnode, continuam acreditando que os halvings seguem como o principal motor do mercado. Eles argumentam que:

  • O halving ainda é um corte fundamental e irreversível da oferta.

  • A atividade dos detentores de longo prazo continua a se concentrar em torno dos períodos de halving.

  • A atuação do varejo ainda pode reaparecer, mesmo com o crescimento da participação institucional

Essas visões divergentes mostram que o debate está longe de ser encerrado. Os argumentos e contrapontos sobre o Bitcoin ignorar ou não o ciclo de quatro anos refletem um mercado em evolução.

Uma estrutura em evolução para entender o Bitcoin

O argumento da Grayscale contra a dominância do ciclo tradicional de quatro anos se apoia em mudanças estruturais claras. Entre elas estão o aumento do envolvimento institucional, a integração mais profunda com as condições macro globais e transformações duradouras na dinâmica da oferta. Dados de apoio da Glassnode e da Coinbase Institutional confirmam que o mercado do Bitcoin atual opera sob forças mais sofisticadas do que os ciclos dominados pelo varejo no passado.

Como resultado, os analistas vêm dando menos ênfase a modelos fixos baseados no timing do halving. Em vez disso, passam a focar em métricas on-chain, tendências de liquidez e indicadores de fluxos institucionais. Essa abordagem mais refinada capta melhor a transformação contínua do Bitcoin de um ativo digital de nicho para uma parte reconhecida do sistema financeiro global.