O co-fundador do Ethereum, Vitalik Buterin, fez uma análise profunda do sistema de governança descentralizada baseada na posse de tokens, sugerindo que os mecanismos de votação existentes são falhos e podem estar impedindo o setor de finanças descentralizadas (DeFi) de realizar todo o seu potencial.

Em uma longa postagem em seu blog pessoal publicada na segunda-feira, Buterin afirmou que a comunidade cripto precisa "ir além da votação dos detentores de tokens como ela existe em sua forma atual" ao se referir a questões de governança.

Atualmente, a maioria dos projetos DeFi gerencia suas atualizações de protocolo, emissão de recompensas e outras questões de governança, através de votações nas quais os detentores de seus tokens nativos tomam parte, de acordo com o tamanho de suas posses.

No entanto, muitos projetos foram criticados por permitir que seu processo de votação seja dominado por "baleias", as quais detêm a maior parte dos tokens de governança, permitindo-lhes votar sempre em benefício de seus interesses particulares em detrimento da comunidade.

Buterin destacou duas questões relacionadas à governança baseada em tokens, enfatizando o risco de que incentivos desiguais entre os membros da comunidade, e a vulnerabilidade à “compra de votos” e “ataques diretos” podem ter influência sobre o resultado das votações. Ele acrescentou:

“A coisa mais importante que pode ser feita, hoje, é abandonar a ideia de que a votação baseada na posse de tokens é a única forma legítima de descentralização da governança.”

Buterin observou uma tendência de “desagregação” dos protocolos, favorecendo a “compra de votos” e a manipulação dos sistemas de governança. Empréstimos garantidos por criptomoedas e o uso de ativos tokenizados para votar seriam dois expedientes que favorcem esses tipos de desvio de finalidade.

Nesse contexto, “o mutuário tem poder de governança sem interesse econômico, e o credor tem interesse econômico sem poder de governança”, acrescentou.

Mirando além da governança baseada em tokens, Buterin defendeu a exploração de sistemas baseados em “Prova-de-Humanidade”, onde um voto é alocado para cada um dos usuários do protocolo.

E também apresentou a “Prova-de-Participação” como uma solução possível. Nesse sistema, a votação é limitada aos usuários de um protocolo que contribuíram de forma objetiva para o benefício do projeto ou de sua comunidade. Os direitos de voto poderiam ser distribuídos exclusivamente para endereços que realizarem tarefas específicas.

O cofundador do Ethereum também sugeriu que a votação quadrática - na qual o poder de um único eleitor é proporcional à raiz quadrada dos recursos econômicos que ele compromete em uma decisão - poderia oferecer soluções únicas para a governança descentralizada.

Ele também sugere uma abordagem em que os riscos envolvidos nas decisões tenham consequências diretas sobre os participantes. Assim, os eleitores individuais se tornam responsáveis por suas decisões. E afirmou:

“A votação mediante  a posse de tokens é falha porque, embora os eleitores sejam coletivamente responsáveis por suas decisões (se todos votarem em uma decisão terrível, os recursos de todos caem para zero), cada eleitor não é individualmente responsável”.