Um cofundador da empresa de infraestrutura de Bitcoin Babylon Labs afirma ter desenvolvido um sistema que permite usar Bitcoin nativo como garantia sem confiança para obter empréstimos na blockchain Ethereum.
Em uma postagem no X na quarta-feira, o cofundador da Babylon Labs e professor da Universidade de Stanford, David Tse, afirmou que a Babylon construiu uma prova de conceito que permite que o Bitcoin (BTC) nativo seja usado de forma sem confiança como garantia para empréstimos na Ethereum pela primeira vez.
Os comentários seguem o lançamento, em agosto, de um white paper da Babylon descrevendo o que a empresa chama de sistema de cofres sem confiança do Bitcoin. O sistema utiliza o BitVM3, um mecanismo de verificação de contratos inteligentes do Bitcoin, para bloquear BTC em cofres individuais de usuários, onde os saques (resgate ou liquidação) são controlados por provas criptográficas do estado de contratos inteligentes externos verificadas no Bitcoin.
Isso permite que os usuários bloqueiem Bitcoin e o conectem à Ethereum sem depender de um custodiante federado ou de uma ponte. No lado da Ethereum, um contrato inteligente verifica o cofre de BTC por meio de um light client do Bitcoin antes de contabilizar a garantia.
Uma versão experimental do token resultante já está disponível no protocolo de empréstimos on-chain Morpho, embora ainda esteja em fase de testes, com uma liquidez total de apenas US$ 14 em USDC (USDC). Tse descreveu o VaultBTC como “um ativo não fungível intermediário que conecta o cofre ao Morpho e permite que depositantes e liquidadores retirem BTC de forma sem confiança”.
A Babylon Labs e David Tse não responderam ao pedido de comentários do Cointelegraph até o momento da publicação.
Quão pouco confiável é isso?
Embora a parte principal do sistema funcione de forma sem confiança, alguns componentes ainda não são totalmente trustless. Segundo o white paper, as liquidações dos cofres de Bitcoin da Babylon utilizam liquidadores pré-aprovados (whitelisted) para monitorar o preço e o estado dos cofres, o que resulta em um sistema de liquidação não totalmente permissionless e que introduz premissas de confiança.
Mesmo com a coassinatura projetada para limitar a censura, o modelo ainda pressupõe que haja liquidadores (e às vezes grandes credores) que ajam corretamente. Embora eles não possam roubar Bitcoin graças ao design do sistema, isso ainda introduz uma dependência de confiança.
As liquidações dependem de um oráculo de preços, o que as torna suscetíveis aos riscos de precisão, pontualidade e resistência à censura do oráculo. Se o oráculo errar ou atrasar, o sistema pode agir incorretamente. Os provedores de oráculos com relações com a Babylon Labs, Band Protocol e Pyth Network, não responderam ao pedido de comentários do Cointelegraph até o momento da publicação.
O que realmente muda?
O white paper fornece um exemplo simples: “Bob possui 1 BTC e deseja tomar emprestados US$ 50.000 em uma stablecoin de Larry por meio de um protocolo de empréstimos na Ethereum.” Isso significa que, se o preço do Bitcoin cair abaixo de US$ 50.000, Larry pode liquidar a garantia. Se Bob pagar o empréstimo dentro do prazo, ele recupera o BTC.
A Babylon Labs explica que os sistemas atuais exigem diversas premissas de confiança: Bob pode entregar o Bitcoin a Larry para custódia, confiando que ele o devolverá.
Caso contrário, Bob pode manter o Bitcoin e prometer permitir que Larry o liquide se o preço cair, o que também exige confiança. Por fim, Bob poderia fazer a ponte do Bitcoin para a Ethereum como Wrapped Bitcoin (WBTC) e usá-lo em um contrato inteligente como garantia. Ainda assim, ele teria que confiar no mecanismo de wrapping.
O WBTC exige confiança, pois o Bitcoin que o sustenta é mantido por um custodiante centralizado, que deve ser confiável para não perder, congelar ou usar indevidamente os fundos. Os usuários dependem da honestidade e da solvência desse custodiante, e não de garantias criptográficas. Essa é a principal limitação que a implementação sem confiança da Babylon pretende eliminar.
“Os cofres sem confiança eliminam todas essas premissas. Bob e Larry pré-assinam em conjunto um conjunto de transações de Bitcoin que definem direitos de gasto condicionais”, afirma o white paper.