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Christina CombenChristina Comben

Trump, tarifas e tokens de utilidade: Yat Siu, da Animoca, diz que as criptomoedas finalmente precisam amadurecer

Tarifas da era Trump, a dura realidade das taxas de juros e um ciclo desgastado de memecoins estão forçando as criptomoedas a deixar sua fase Peter Pan e construir tokens com utilidade real, diz Yat Siu, da Animoca Brands.

Trump, tarifas e tokens de utilidade: Yat Siu, da Animoca, diz que as criptomoedas finalmente precisam amadurecer
Especial de Ano Novo

Para Yat Siu, cofundador da Animoca Brands, 2025 será lembrado como “o ano do Trump”, não porque o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, salvou as criptomoedas, mas porque o setor apostou demais nele e precificou errado tudo, de tarifas a cortes de juros.

Trump deveria ser o atalho das criptomoedas em 2025. Em vez disso, o Bitcoin (BTC) chega mancando ao fim do ano, enfrentando sua quarta queda anual na história. A liquidez das memecoins foi sugada para desvios políticos, e um dos construtores mais antigos do setor acredita que o mercado confiou demais no novo presidente.

Desempenho do Bitcoin em 2025. Fonte: CoinMarketCap

“Se eu tivesse que dar uma nota, diria B-/C+”, afirmou Siu. Segundo ele, traders trataram Trump como se as criptomoedas fossem seu “primeiro filho”, quando, na realidade, “provavelmente somos o terceiro, quarto ou quinto filho dele, talvez até o oitavo”.

As prioridades de Trump, como tarifas, guerras comerciais e disputas em torno do Federal Reserve, pesaram sobre os ativos de risco, e Siu destacou que, quando o presidente inicia uma guerra tarifária, ele “não está pensando no que vai acontecer com o preço do Bitcoin”.

Ele disse que a “Trump trade” das criptomoedas não se concretizou em 2025 e que 2026 forçará o setor a focar em conformidade regulatória e casos de uso reais. A listagem planejada da Animoca por meio de uma fusão reversa é a aposta de Siu de que investidores de capital aberto buscam um “proxy de altcoins” quando as regras nos Estados Unidos estiverem mais claras.

IPO da Animoca como proxy de altcoins

Se 2025 foi o ano de Trump, a Animoca quer que 2026 seja o ano em que os mercados públicos finalmente tenham um proxy líquido de altcoins. A empresa planeja abrir capital por meio de uma fusão reversa com a Currenc Group, uma fintech listada na Nasdaq, em termos que deixariam a Animoca com 95% da entidade combinada. “Tecnicamente, no papel, eles nos compram”, disse ele, “embora nós controlemos isso”.

A proposta é direta: a MicroStrategy se tornou um veículo público alavancado para exposição ao Bitcoin, mas não há um equivalente para a cauda longa de tokens. “Se você é um investidor e quer ter exposição às criptomoedas, certamente vai precisar ter seu Bitcoin… e depois há o conjunto de altcoins, e como você ganha exposição a isso?”

Comprar um token de camada base como Ether (ETH) ou Solana (SOL) oferece apenas acesso limitado, argumenta. A resposta da Animoca é se posicionar como uma agregadora listada, ao estilo SoftBank, do potencial de alta das altcoins, oferecendo aos investidores de mercado público uma forma de possuir uma fatia diversificada do ecossistema de altcoins e da Web3.

A empresa tem mais de 620 companhias no portfólio e investiu em cerca de 100 novos projetos somente no ano passado, segundo Siu, todos fora do seu próprio balanço. No exercício financeiro de 2024, a Animoca reportou receitas não auditadas de US$ 314 milhões e a empresa apresentou EBITDA positivo por quatro anos consecutivos.

Tese de investimento da Animoca Brands. Fonte: Animoca Brands

Com o tempo, Siu espera que a própria Animoca seja totalmente tokenizada, transformando a empresa em uma ponte entre os mercados tradicionais de ações e a propriedade on-chain.

Clareza regulatória, GENIUS e o momento “tokenize ou morra”

A aposta de Siu em um IPO como proxy de altcoins faz sentido se o terreno regulatório se consolidar, e ele vê legislações-chave nos Estados Unidos, incluindo a Clarity Act e a GENIUS Act, como catalisadoras, e não existenciais.

“A expressão que gostamos de usar é ‘Tokenize ou morra’”, disse ele. Assim que as empresas tiverem um arcabouço claro para emitir, negociar e supervisionar tokens, ele espera uma enxurrada de incumbentes entrando no mercado. “Empresas de criptomoedas gostam de andar no limite… mas, se você é uma empresa estabelecida, seja de capital aberto ou fechado, por que correr o risco?”

Ele aponta para a forma como grandes marcas reagiram quando as regras para stablecoins se firmaram em Washington e, de repente, após anos de hesitação, “todo mundo está fazendo stablecoins”. Ele espera o mesmo padrão quando a Clarity Act formalizar a classificação de tokens e as regras de estrutura de mercado no próximo ano.

Emissores estabelecidos lançarão tokens ligados aos seus negócios existentes porque finalmente terão “segurança jurídica, algo que não tinham antes”.

Nesse contexto, ativos do mundo real (RWAs) e valores mobiliários tokenizados servem como a ponte, em um setor que deve crescer para trilhões até 2030. A Animoca já começou a fechar parcerias em RWAs, incluindo um acordo com a Grow, uma grande gestora chinesa de ativos, para trabalhar em tokenização e acesso a mercados tokenizados para clientes tradicionais.

2026: o ano do token de utilidade

Siu acredita que a próxima mudança temática já está em andamento. “O tema da institucionalização das criptomoedas vai continuar”, disse ele, mas 2026 será sobre a entrada de um “novo varejo”, sob regras mais claras e com produtos construídos em torno do uso, e não apenas da especulação.

Até agora, segundo ele, em uma tendência que atingiu o pico durante a temporada das memecoins, muito foco esteve no trader de criptomoedas existente e no lançamento de tokens e memecoins com plataformas como a Pump.fun.

Nesse ambiente, desenvolvedores podiam lançar um token sem se preocupar de onde viriam os clientes, focando na narrativa em vez do produto, mas agora as condições de mercado estão forçando um reajuste.

A “loucura das memecoins” teve seu ápice com tokens associados a Trump e Melania Trump no início deste ano, quando o Official Trump (TRUMP) caiu mais de 75% em relação ao pico e a Melania Meme (MELANIA) recuou cerca de 90%, deixando centenas de milhares de pequenas carteiras no prejuízo.

Isso, segundo Siu, foi “um verdadeiro ataque vampiro à comunidade de memes”, queimando muitos investidores de varejo e sugando liquidez do restante do mercado.

À medida que o capital se afasta da pura especulação, a próxima onda dependerá de produtos que resolvam problemas reais para gamers, criadores e marcas, atraindo usuários que nunca se viram como “pessoas de cripto”.

Com as leis Clarity e GENIUS abrindo caminho para emissões em conformidade, ele argumenta que “2026 será o ano do token de utilidade, porque todos vão lançar um token que tenha um caso de uso, e poderemos falar sobre isso”.

Então, basicamente, as empresas de criptomoedas estão amadurecendo?

“Elas precisam, precisam sim… Não somos a única empresa indo para o IPO.”