César Kobayashi, Superintendente de Tokenização e Ativos Digitais da Núclea, revelou ao Cointelegraph Brasil, durante o Febraban Tech, que a empresa desenvolveu uma bridge capaz de conectar o Drex ao Bitcoin e a diferentes blockchains públicas, privadas e até a sistemas legados que não utilizam tecnologia de registro distribuído (DLT).

Chamado de Orquestrador Núclea, o objetivo da tecnologia, segundo a empresa, é ampliar o potencial de integração e adoção do Drex em múltiplos ecossistemas financeiros e corporativos.

A solução em desenvolvimento pela Núclea permitirá que ativos e informações trafeguem de forma segura e programável entre o Drex e outros ambientes tecnológicos.

A ponte funciona como um conector universal, compatível tanto com redes blockchain quanto com sistemas tradicionais. Segundo a empresa, a proposta é manter a segurança e a rastreabilidade típicas das redes DLT, mesmo quando um dos lados da operação não utiliza esse tipo de tecnologia.

Para Kobayashi o Drex marca o início do chamado SFN 2.0, uma nova fase em que sistemas legados e tecnologias emergentes como blockchain coexistem para maximizar eficiência e segurança.

Drex, tokens e stablecoins

Além disso ele destacou que , ativos lastreados em recebíveis — como duplicatas e cartões — lideram o potencial de tokenização no curto prazo, especialmente com o apoio da Resolução CVM 88. Stablecoins também ganham destaque por trazer agilidade e eficiência à liquidação de ativos, com a expectativa de maior tração conforme as regulações avancem.

“Com mais de R$ 300 milhões em duplicatas já tokenizadas, a Núclea avança com iniciativas práticas. Um dos destaques é o marketplace N-COTAS, que conecta cotas de consórcios a fundos de investimento por meio de blockchain. O projeto já conta com o Santander como parceiro e busca reduzir os deságios nas negociações secundárias”, disse.

Na visão da companhia, infraestruturas como a Núclea vão assumir papel ainda mais relevante em um ecossistema tokenizado, ampliando sua atuação institucional para além do registro tradicional. Confira a entrevista completa:

Sistema Financeiro 2.0

Cointelegraph Brasil (CTBR): Como a Núclea enxerga o papel da tokenização na modernização da infraestrutura financeira brasileira? A emprsa acredita que estamos migrando para o SFN 2.0?

César Kobayashi (CK): A partir dos debates nacionais e internacionais, acreditamos que o mercado já reconheceu o valor da tecnologia Blockchain. Agora, o foco se volta para identificar as melhores formas de complementar os sistemas financeiros legados, de modo a capturar o máximo de valor conforme o contexto específico de cada aplicação. A iniciativa do DREX, sem dúvida, representa um embrião do que poderá vir a ser um Sistema Financeiro Nacional 2.0.

CTBR: Quais tipos de ativos a Núclea considera mais promissores para tokenização no curto e médio prazo? e Qual o papel das stablecoins nesse processo?

CK: Os cases da fase 2 do DREX já evidenciam diversas frentes com potencial de melhoria por meio da tecnologia. Alguns ativos enfrentam desafios maiores em função de aspectos regulatórios, de infraestrutura ou da complexidade dos entes envolvidos; outros, no entanto, encontram um cenário mais favorável.

Um exemplo de aplicação prática, especialmente à luz da Resolução CVM 88, são os investimentos que geram uma renda fixa tokenizada, lastreada em recebíveis como duplicatas e cartões. A Núclea já desenvolve iniciativas relevantes nesse campo.

As stablecoins também apresentam grande potencial para gerar eficiência e agilidade. Seu uso na liquidação de ativos já é uma realidade no universo das criptomoedas, e tende a ganhar tração na tokenização de ativos tradicionais à medida que houver maior clareza regulatória e assimilação institucional.

Drex acelerando o mercado de ativos digitais

CTBR: De que forma o Drex pode acelerar a adoção de tokens em operações do mercado financeiro e de capitais? E quais as espectivas em relação a CBDC brasileira?

CK: Com uma moeda tokenizada oficial, os benefícios na liquidação de ativos podem ser plenamente realizados — entre os principais ganhos estão maior eficiência operacional, rastreabilidade, facilidade de conciliação e garantia da entrega contra pagamento.

Esses fatores contribuem diretamente para uma aceleração no processo de assimilação da tecnologia por parte dos entes tradicionais. O DREX vai além de ser apenas uma CBDC: ele também é uma rede capaz de dar suporte à tokenização de ativos, lastreando-os em operações reais e formalizando-os como tokens. Atualmente, o projeto avança para a conclusão de sua fase 2, com discussões futuras já sendo preparadas.

CTBR: A Núclea já está envolvida em em diversos projetos de tokenização, como tem sido a experiência destes tokens no mercado? Quais são os numeros de ativos já tokenizados pela empresa e que pretende atingir em 2025?

CK: A Núclea já realiza a tokenização de duplicatas dentro do atual regime de registro em vigor, e em breve conectará essa operação à Duplicata Escritural. Já foram tokenizados mais de R$ 300 milhões em duplicatas.

Além disso, lançamos recentemente o marketplace N-COTAS, que conecta administradoras de consórcio a fundos de investimento. Utilizamos blockchain para representar informalmente as cotas, facilitando a negociação e liquidação desses ativos.

Esse mercado envolve cerca de 11 milhões de brasileiros que enfrentam dificuldades para vender suas cotas no mercado secundário. Com o ganho de volume da N-COTAS, espera-se reduzir os deságios dessas operações. A iniciativa já conta com a parceria do Santander e de diversos fundos, e estamos em interlocução com o mercado para expandi-la.

Também iniciamos, neste ano, a construção da solução para tokenização de recebíveis de cartões.

Interoperabilidade no Drex

CTBR: Como a empresa está se preparando para integrar suas soluções à infraestrutura do Drex?

CK: A Núclea participa do case de tokenização de CDBs, em parceria com Bradesco, Itaú e Banco do Brasil. Nesta fase 2 do DREX, nosso papel tem sido apoiar as discussões técnicas e regulatórias, utilizando nossa experiência como uma das principais infraestruturas de mercado do país — tanto no registro tradicional de CDBs quanto no uso de blockchain e outras tecnologias sendo testadas no piloto.

CTBR: Como a Núclea avalia a interoperabilidade entre o Drex e outras blockchains públicas e privadas?

CK: Para lidar com os desafios semelhantes aos enfrentados pelo DREX, desenvolvemos o Orquestrador Núclea, um componente que abstrai todas as tecnologias utilizadas. Isso inclui nossa infraestrutura blockchain, as interoperabilidades com outras redes e a integração com nossos sistemas legados.

O Orquestrador permite trocas e conexões de forma mais ágil e flexível. No caso do DREX, embora o debate sobre esse tipo de componente ainda seja informal, já observamos indícios de que poderá seguir nessa direção.

CTBR: Na visão da empresa, qual será o papel das infraestruturas de mercado financeiro como a Núclea em um ecossistema tokenizado?

CK: A Núclea entende que o movimento tecnológico do blockchain pode transformar a forma como prestamos nossos serviços, complementando não apenas nosso parque tecnológico, mas também nosso papel institucional em determinados ambientes. Por meio da nossa iniciativa de Ativos Digitais, buscamos desenhar essa jornada, alinhados à nossa missão de oferecer conexões que gerem valor para todo o mercado.

Stablecoins

CTBR: Como vocês veem o papel das stablecoins privadas e do Drex no cenário de meios de pagamento? Elas competem ou se complementam?

CK: As stablecoins privadas podem acelerar a materialização dos benefícios da representação monetária em formato tokenizado. Uma vez que uma moeda oficial como o DREX se torne realidade, tais benefícios tendem a ganhar ainda mais tração, ampliando sua velocidade e abrangência. No entanto, é importante notar que o DREX não substitui por completo os usos das stablecoins — ambos se complementam, atendendo a diferentes casos de uso.

CTBR: Quais tokens a Núclea planeja lançar nos próximos anos, aproveitando o avanço da tokenização e do Drex?

CK: Além das iniciativas mencionadas, há discussões internas em estágio ainda embrionário. Estas continuam sendo debatidas com o mercado e os reguladores, e ainda não se encontram maduras o suficiente para divulgação pública.