Nesta segunda-feira, 24, no evento da QR Assets, promovido na Arena B3, especialistas da Empiricus e da própria QR, compartilharam algumas dicas sobre como escolher as criptomoedas com grandes chances de valorização.

Segundo Valter Rebelo, Head de ativos digitais da Empiricus Research, quando o investidor analisa qualquer criptomoeda, ele deve adotar um enfoque baseado em princípios fundamentais, como os americanos dizem, "first principles". Uma criptomoeda, como o próprio nome sugere, é uma moeda e, portanto, tem dois lados: sua utilidade (demanda) e sua oferta. 

"Ao analisar qualquer criptoativo, é importante considerar para que serve esse ativo, qual é sua emissão, como é a distribuição, e a velocidade desse dinheiro dentro da microeconomia do protocolo. Assim, a análise começa em um nível mais alto, focando na proposta de valor do projeto. É necessário avaliar se ele pode entregar valor real, oferecendo serviços ou produzindo bens que existem no mundo real de forma mais eficiente, segura, distribuída e acessível 24 horas por dia", disse.

Segundo ele, é fundamental adotar essa abordagem abrangente, em vez de simplesmente usar uma métrica específica para um protocolo de finanças descentralizadas (DeFi).

Na mesma linha, Marcelo Cestari, especialista de gestão de criptoativos da Empiricus Research, é importante que o projeto tenha Product Market Fit e também é preciso considerar qual é a narrativa em que essa cripto se encaixa.

"Por exemplo, se estamos em um ano onde a narrativa de NFTs está em destaque, faz sentido analisar se o projeto X, que se enquadra nessa narrativa, é relevante ou já existe algo semelhante. Talvez outra narrativa, como uma layer 1, layer 2 ou um projeto de derivativos, faça mais sentido no momento", disse.

Cestari aponta que também é importante observar se o ativo resolve problemas do mundo real ou agregar valor e é crucial identificar em qual segmento o projeto se encontra.

"Às vezes, um projeto pode estar em um segmento que já foi deixado de lado, o que impacta significativamente a análise. Portanto, segmentar projetos é uma parte essencial do nosso processo de avaliação", aponta.

Nicholas Sacchi, head de estratégia de parcerias do BlockTrends, que mediava o painel, também destacou que é importante fazer uma avaliação muito parecida com a de Venture Capital, olhando os ativos como se ele fosse uma empresa, e, portanto, vendo seus dados, atividades, produto, concorrentes, diferenciais, concorrentes entre outros.

Já Theodoro Fleury, CIO da QR Asset, apesar de termos muito mais ferramentas para analisar projetos cripto, atualmente do que há quatro ou cinco anos, ainda é uma ciência em evolução.

Na QR, devido a questões regulatórias, a empresa só trabalha com criptoativos que estão dentro das jurisdições e que atendem a certos critérios adicionais, como estar listado em mais de uma exchange.

Dentro deste filtro, a empresa analisa em que lugar da cadeia de investimento em blockchain esses ativos se encontram e utiliza métricas de rede para entender o que gera valor.

"O Bitcoin, especificamente, tem a característica de escassez e é chamado de ouro digital. Modelos mais recentes, como o stock-to-flow, tentam correlacionar o valor do Bitcoin com sua escassez, comparando a quantidade de novos bitcoins produzidos com o estoque existente. Embora controverso, esse modelo tem mostrado algum valor ao longo do tempo" aponta.

Análise e tokenomics

Sobre o uso de análises 'tradicionais', Rebelo, destacou que a análise técnica não deve ser vista como o principal fator para decide incluir ou não um ativo na carteira. Analisar os ciclos do mercado também é muito importante, assim como o movimento macro do mercado, ditado pela tendência do Bitcoin, que, por sua vez, também é impactado pelas grandes narrativas do mercado de tecnologia.

"Há uma correlação muito forte entre ativos de risco em geral e o Bitcoin, que tem mostrado uma relação significativa com essas grandes variações de liquidez. Quando o apetite por risco cresce no mercado, é o momento de olhar além do Bitcoin e ver quais narrativas estão em destaque e o que o mercado está prestando atenção. 

O mundo das criptomoedas é muito influenciado pela economia da atenção: o que está sendo discutido, o que está em foco. Por exemplo, o desempenho das ações da NVIDIA pode ter um efeito sobre criptos ligadas à IA, mesmo que não haja uma conexão direta além do nome.Portanto, analisar criptomoedas envolve uma combinação de ciência e um pouco de arte", disse.

Já Cestari, apontou que é importante analisar o tokenomics, especialmente a inflação. "Por exemplo, a inflação do Bitcoin é de 0,8% ao ano, e essa taxa tende a diminuir a cada quatro anos. Quando consideramos outro criptoativo, obviamente sendo um projeto diferente do Bitcoin, se ele tiver uma inflação superior a 5% ou 7%, isso pode ser considerado relativamente alto e representar um sinal de alerta, disse.

"Ao fazer uma análise de tokenomics, a inflação é uma questão crucial. Além disso, avaliamos a utilidade do token. Por exemplo, se o detentor de um token consegue obter retorno dentro do projeto ou se as taxas geradas, como as da Uniswap, são revertidas para os detentores do token, isso é um ponto positivo.  Em projetos como exchanges descentralizadas, a ausência desse tipo de mecanismo pode ser um sinal de alerta na nossa interpretação", afirmou.

Rebelo também apontou que os investidores também devem ter 'um pé atrás' com airdrops, que são, basicamente, uma estratégia de aquisição de clientes para um projeto de cripto, oferecendo tokens a novos usuários sem um histórico prévio com o protocolo. Atualmente, essa prática tem sido muito criticada no mercado.

"Assim como ações, criptomoedas podem ser mecanismos de financiamento para projetos. Muitos venture capitalists participam de rodadas fechadas e promovem a utilização do protocolo, oferecendo recompensas através de airdrops. Embora esses airdrops representem uma pequena proporção do total circulante de moedas em vários projetos, eles ainda geram preocupação.

Por exemplo, o Worldcoin (WLD) foi um dos tokens que mais caiu no início deste ano. Se olharmos o Market Cap pelo Fully Diluted Value (FDV), que considera o total circulante e o não circulante, o WLD tinha apenas 1% em circulação. Isso indica uma curva de diluição muito grande para futuros investidores, o que é um sinal de alerta. 

Quando o mercado de baixa (Bear Market) voltar, esses tokens provavelmente serão mais punidos, como já estamos vendo com alguns tokens e meme coins durante este período de marasmo. Portanto, o Free Float (a quantidade de tokens disponíveis no mercado) pode ser mais preocupante do que o pre-mining (a mineração antecipada de tokens)", disse.

Sinais de atenção

Fleury também apontou que é importante considerar esses aspectos, especialmente na detecção de sinais de alerta (Red Flags). Segundo ele, pensando nos princípios fundamentais, muitas pessoas abraçaram a teoria do Bitcoin por ser uma moeda escassa e resistente, contrastando com o mecanismo de reserva fracionária dos bancos.

No entanto, a economia de tokens que se desenvolveu em torno do Bitcoin mostra que muitos fundadores querem ter seu próprio banco central para emitir seus tokens. Alguns fazem isso de maneira mais calibrada, enquanto outros não.

"Duas das principais Red Flags que observamos na QR são: a concentração significativa de market cap em poucas wallets ou uma wallet com um grande percentual do float; e o potencial de diluição. Por exemplo, no caso da WorldCoin, que o Valter mencionou que apenas 1% dos tokens estavam em circulação em relação ao FDV. Outro exemplo é a Arbitrum, uma das layer 2 mais predominantes do Ethereum, onde apenas 20% dos tokens estão em circulação em relação ao FDV.

Essas situações indicam um potencial de diluição muito grande, o que é preocupante. Portanto, é recomendável investir em ativos que não apresentem um potencial de diluição tão elevado", aponta.

Já Cestari, da Empiricus, completou dizendo que quando os tokens fazem parte de um investimento de venture capital (VC), é crucial considerar a distribuição dos tokens entre investidores e fundadores.

Assim, uma grande concentração de tokens nas mãos dos fundadores é um sinal de alerta significativo. Isso vai contra o princípio da descentralização e pode levar a várias práticas problemáticas.

"Os fundadores podem emitir mais tokens, despejar tokens no mercado, ou até mesmo inflar o preço artificialmente antes de vender. Essas ações podem prejudicar os outros investidores e a saúde do projeto. Portanto, uma alta concentração de tokens com os fundadores é algo que sempre consideramos uma red flag", finalizou.