A rapidez das revoluções digitais traz aos mais idosos que mal tiveram oportunidade de frequentar os bancos escolares problemas graves como exclusão digital e isolamento social. A revolução da informática transformou drasticamente os modos de produção do saber e as formas de comunicação. E muitos idosos ficaram à margem desta inovação.
Antes é importante entendermos como a inclusão digital atingiu os idosos no Brasil. De acordo com a pesquisa do Centro Regional de Estudo para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), a porcentagem de pessoas na terceira idade que usam internet cresceu de 8% para 19%, de 2012 a 2016 e em 2019 esse número subiu para 34%.
Imagem: cetic.br
A partir desta premissa, alguém já tentou explicar o que é e para que serve o Bitcoin para seus avós? Estamos falando de pessoas que atravessaram décadas em sociedades muito diferentes da atual, que embora possam não ter tido educação formal em sua juventude, estão conectados pelos telefones celulares, usando comunicadores, redes sociais e serviços bancários.
Em linhas simples, o Bitcoin seria uma versão digital de um tipo de dinheiro, ou mesmo o ouro, como alguns preferem nomeá-lo, devido a sua natureza de reserva de valor. Mas tirando essa segunda opção, como diferenciar o saldo bancário que teu avô vê na tela do celular, que também pode ser considerado uma versão digital do dinheiro físico, com o Bitcoin?
Não é simples de fato, pois o saldo escriturário do dinheiro em formato digital na tela do celular não o torna dinheiro essencialmente digital. O Bitcoin é essencialmente digital e sua apresentação na tela do celular em uma carteira criptografada resume todo seu valor. Como explicar essa dicotomia? Não é nem um pouco fácil de explicar, nem para os jovens.
Sobre a natureza do Bitcoin
O Bitcoin é uma moeda totalmente digital e você pode transacioná-lo entre computadores em todo o mundo, como um email. Se teus avós já tiverem usado email uma única vez na vida, esse conceito será mais palatável para eles.
Perdi meu avô no início do ano passado, ele era um homem muito interessado nas modernidades do mundo, ele aos 89 anos mantinha uma rotina de leitura digitais no seu celular e de vez quando no computador para atividades essencialmente bancárias. Então, uma vez falei do Bitcoin para ele e a primeira pergunta que ele me fez foi: Se o Bitcoin é uma moeda digital, o que nos impede de fazer um monte de cópias falsas e de se tornar incrivelmente rico?
Bem, expliquei para que diferente de um arquivo mp3 ou de vídeo, um Bitcoin não é uma sequência de dados que pode ser duplicada. O famoso ctrl-c e ctrl-v não funciona sob o código do Bitcoin, pois não se trata simplesmente de código legível, mas de código misturado e criptografado, somente por desvendamento matemático é possível produzir Bitcoins. Claro que tive mais trabalho que isso, pois ele se interessou pela questão da criptografia que ele conhecia parcialmente por conta dos tokens de acesso à conta bancária. Coisas que estão no dia a dia de todos nós e que são um avanço tecnológico que existe e foram inventados nas décadas de 50, 60, 70 e 80 do século passado.
Outro exemplo que usei com ele foi o exemplo de um jogo de pôquer, onde os pares poderiam empenhar dinheiro para apostar sem ter que ter dinheiro vivo na mesa naquela hora, ou ter o inconveniente de ter que sacá-lo antes ou depois do jogo.
Não há dinheiro na mesa, então alguns de vocês pegam alguns cadernos e começam a escrever quem aposta quanto, quem ganha e quem perde. Você não confia completamente em mais ninguém, para que todos mantenham seus livros separados. E no final de cada mão, todos vocês comparam o que anotaram. Dessa forma, se alguém cometer um erro ou tentar trapacear e conseguir algum dinheiro extra para si próprio, essa diferença será detectada, mas somente depois que todos os cadernos forem vistoriados. Essa auditoria de cada caderno foi a explicação mais simples que encontrei na hora explicar o que é a blockchain e a questão da confiança que é a base do Bitcoin/blockchain.
Para um idoso, seja lá de que classe social ele for, a questão da confiança em um serviço, que principalmente envolva dinheiro, é uma questão negrálgica. Eles têm muita desconfiança e qualquer coisa que não esteja ao alcance de suas mãos e seu entendimento.
A comparação com o ouro
Em uma pesquisa realizada em 2014 pela The Street, apenas 2% dos entrevistados disseram que possuíam Bitcoins, mais de 3/4 nunca ouviram falar da moeda virtual e menos de 1/5 disse que consideraria usar Bitcoin ou qualquer alternativa à moeda tradicional. Cerca de 80% disseram que preferem ouro em comparação com qualquer tipo de criptomoeda.
A mesma pesquisa destacou o baixo perfil do Bitcoin com o público em geral também revelou uma estatística surpreendente: os entrevistados que estavam na faixa dos 50 até 64 anos era a mais familiar (30%) com o Bitcoin, superando em 10% as gerações mais jovens. Em conversa com Daniel Coquiere, CEO da Bitcointrade, sem revelar os números exatos, este disse que o perfil de 50 anos é muito comum na plataforma da Bitcointrade.