Resumo da notícia
Análise revela desafios reais na função de reserva de valor.
Especialistas destacam volatilidade como principal obstáculo do Bitcoin.
Debate mostra divergências sobre uso do Bitcoin no longo prazo.
O debate sobre o papel do Bitcoin como reserva de valor voltou a ganhar força após mais uma queda recente no mercado. Sempre que tensões econômicas dominam as manchetes, o comportamento do ativo reacende uma discussão central: afinal, o Bitcoin cumpre essa função ou ainda está longe disso?
A conversa conduzida por Felipe Escudero e pelo Cointelegraph Brasil com Thiago Iglesias, especialista da Torq, durante o Blockchain Conference Talks trouxe novas nuances ao tema e revelou diferentes visões do setor.
Iglesias analisou o debate com cautela. Para ele, a discussão exige entender o que define uma reserva de valor. Thiago destacou que o conceito exige estabilidade e baixa volatilidade, duas características ainda distantes do universo cripto.
Ele reconheceu que o ouro também apresenta flutuações, mas ressaltou que a magnitude das variações do Bitcoin é muito maior. Assim, segundo ele, o ativo ainda não alcançou maturidade suficiente.
No entanto, Thiago argumentou que o principal objetivo do Bitcoin nunca foi ser uma reserva de valor estática. Em sua visão, a proposta central envolve mudar a infraestrutura financeira global.
O ativo, disse ele, permite repensar sistemas, ampliar a transparência e criar novas formas de operar serviços financeiros. Por isso, embora possa ser usado como reserva por alguns investidores, ele acredita que esse não é seu papel essencial.
Mesmo assim, Thiago reconheceu que parte do mercado corporativo brasileiro já enxerga benefícios no Bitcoin como parte de estratégias internas. Ele citou o exemplo da Méliuz, empresa que chegou a adquirir uma quantidade significativa de Bitcoin.
Para ele, isso mostra que alguns CNPJs consideram o ativo útil tanto como proteção quanto como alternativa diversificada. Apesar disso, ele reforçou que a adoção institucional ainda é gradual devido ao perfil conservador das empresas financeiras.
Reserva de valor no longo prazo
O apresentador Felipe Escudeiro acrescentou outra camada ao debate. Para ele, o Bitcoin funciona como reserva de valor apenas para quem pensa no longo prazo.
Ele destacou que qualquer gráfico histórico mostra ganhos consistentes para quem segurou o ativo por mais de quatro anos, independentemente do momento de compra.
Porém, Felipe reforçou que o ativo não serve para quem precisa de liquidez imediata. Assim, ele afirma que o Bitcoin é “reserva de valor” apenas dentro de um horizonte temporal estendido.
O debate ganhou ainda mais profundidade quando a conversa se expandiu para outros temas do mercado. Thiago explicou que, no ambiente institucional, o interesse atual se divide entre criptoativos tradicionais, stablecoins e tokens RWA. Para ele, os RWAs — ativos do mundo real tokenizados — despontam como o segmento mais consolidado. Ele citou o avanço brasileiro nesse campo e destacou como o país se tornou referência global.
Thiago também comentou o crescimento expressivo das stablecoins, que hoje movimentam trilhões e influenciam diretamente o ecossistema global. Ele observou que muitos usuários utilizam stablecoins sem perceber, seja em contas digitais, seja em operações de câmbio simplificadas. Além disso, destacou que governos começaram a olhar para elas com mais atenção, impulsionando debates sobre CBDCs, como o Drex no Brasil.
Mesmo com a expansão dessas tecnologias, o debate sobre o Bitcoin continuou como centro da conversa. Thiago voltou a reforçar que o valor do ativo depende da adoção prática e da confiança coletiva. Assim, ele afirmou que o Bitcoin não falhou como reserva de valor, mas que essa talvez não seja a métrica ideal para avaliá-lo. Para ele, considerar a inovação estrutural trazida pelo protocolo é essencial para entender seu impacto.