Nesta quinta-feira (27), o Google, por meio da divisão Google Cloud, anunciou o lançamento de uma solução para facilitar a operação de nós de uma blockchain em nuvem. Chamada Blockchain Node Engine, a solução optou por dar suporte aos nós da Ethereum em seu lançamento, embora o anúncio dê a entender que novas blockchains serão adicionadas.
O Cointelegraph Brasil ouviu especialistas em tecnologia blockchain para entender como a entrada de mais uma big tech impacta o mercado cripto, especialmente a área de infraestrutura. De forma unânime, eles consideraram o anúncio muito positivo.
Google dá mais praticidade à blockchain
Utilizar o Google Cloud para manter nós operando na nuvem não é novidade. Já é possível, a qualquer um que se interesse, manualmente tornar um nó operante. O que muda com a nova solução da big tech é que o nó pode se tornar operando com apenas uma operação.
Jeff Prestes, consultor e especialista em blockchain, explica que o processo de sincronização entre o nó e a blockchain pode demorar de três a quatro dias. Nesse contexto, Prestes considera a entrada do Google como algo positivo.
Além da preparação de um nó não ser algo trivial, a sincronização entre o servidor onde o nó se encontra e a blockchain pode demorar entre três a quatro dias, afirma o especialista. Através do Blockchain Node Engine, do Google Cloud, esse processo pode levar apenas algumas horas – ou, dependendo do modelo usado pela empresa de tecnologia, pode ser instantâneo.
“Para projetos que precisam dar aos seus clientes um acesso rápido a informações contidas em uma blockchain, como plataformas de NFTs ou de tokenização, por exemplo, essa notícia é fabulosa”, diz Prestes.
O especialista em tecnologia blockchain comenta ainda sobre as opções mais populares na indústria para acessar dados em uma blockchain: Infura e Alchemy. É comum que usuários não-casuais, ou ‘heavy users’, utilizem esses serviços para permitir a consulta e envio de transações por meio de seus servidores. O problema, ressalta Prestes, é que essas são opções caras.
“Se for mais barato ter o meu próprio nó, acredito que a tendência é que esses heavy users migrem desses serviços para plataformas como a nova oferta do Google.”
Um movimento positivo
O discurso de maior praticidade trazida pelo novo serviço do Google também é defendido por Daniel Miranda, techlead de blockchain da tokenizadora Liqi. Miranda diz que a Liqi já utiliza serviços em nuvem, que é a Amazon Web Services (AWS), para manter alguns de seus nós, e acredita que iniciativas como o Blockchain Node Engine serão cada vez mais comuns.
“O impacto é bem positivo, dado que a barreira de entrada diminui bastante para empresas e indivíduos possuírem seu próprio nó”, avalia Miranda.
Além da praticidade, as lições aprendidas pelo Google nos últimos 20 anos atuando no mercado de tecnologia não podem ser ignoradas, na visão de Maurício Magaldi, diretor global de estratégia para cripto na 11:FS, e apresentador dos podcasts Blockchain Insider e BlockDrops.
Equipes de desenvolvimento e players institucionais são os mais beneficiados pelo novo serviço do Google, diz Magaldi. Outro benefício é a “pressão” que a entrada da big tech gera na indústria blockchain.
“Com o Google Cloud entrando firme em Ethereum, isso coloca uma pressão sobre a AWS e outras concorrentes, até mesmo blockchains, acelerando a evolução do setor e também sua sofisticação”, afirma o membro da 11:FS.
Para o ecossistema da Ethereum, o Blockchain Node Engine é especialmente útil. Jeff Prestes explica que as soluções de Camada 2, como os rollups (Optimism e Arbitrum, por exemplo), também se baseiam em nós da Ethereum. Embora o algoritmo de consenso seja diferente, Prestes afirma que isso pode facilitar a ampliação do serviço para todo o ecossistema da segunda maior criptomoeda em valor de mercado.
“Os passos são parecidos para disponibilizar o serviço para nós da Polygon, por exemplo. Ainda que não sejam nós validadores, podem ser nós para receber transações e pesquisar informações”, comenta o especialista.
E a descentralização?
Big techs e descentralização são palavras que não costumam estar do mesmo lado. Nesse caso, no entanto, o Blockchain Node Engine pode ajudar na descentralização dos nós do Ethereum.
Um relatório, publicado em agosto pela empresa de inteligência Messari, apontou que a AWS abriga mais de 50% dos nós da Ethereum. Daniel Miranda, da Liqi, entende que a entrada do Google afeta positivamente a descentralização da rede.
“Com esse movimento, o Google o acesso a esse tipo de infraestrutura [nós operando na nuvem]. Sem o acesso a esse tipo de serviço, muitas empresas e indivíduos acabam adotando infraestruturas mais centralizadas, como o Infura.”
No mesmo sentido se posiciona Jeff Prestes, ao dizer que a entrada de provedores com serviços como o do Google aumentarão a presença de nós do Ethereum ao redor do mundo – e, consequentemente, aumentarão a descentralização da rede.
Magaldi, da 11:FS, junta-se aos outros dois especialistas ao dizer que o Blockchain Node Engine não deve causar a centralização dos nós. Ainda que isso aconteça, ele argumenta que a criação de “nós caseiros” através de projetos como dAppNode podem resolver o problema.
O que é um nó?
Os nós de uma blockchain são responsáveis por propagar e validar as transações na rede. Eles são responsáveis por checar, por exemplo, se o autor de uma transação possui realmente a quantia a ser enviada. Em caso positivo, a transação é autorizada.
Isso é possível porque os nós mantêm um registro do estado atual da blockchain, como um livro contábil, ajudando a proteger a rede. No caso de blockchains públicas, qualquer pessoa interessada pode operar seu próprio nó, que pode ter como base um computador, um celular ou até mesmo um servidor na nuvem.
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