O ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), Gary Gensler, renovou seu alerta aos investidores sobre os riscos das criptomoedas, chamando a maior parte do mercado de “altamente especulativo” em uma nova entrevista à Bloomberg na terça-feira.
Ele destacou o Bitcoin (BTC) como relativamente mais próximo de uma commodity, enfatizando que a maioria dos tokens não oferece “dividendo” nem “retornos usuais”.
Gensler enquadrou o atual cenário de mercado como uma espécie de acerto de contas, consistente com os alertas que fez enquanto estava no cargo, de que o fascínio global pelas criptomoedas não equivale a fundamentos sólidos.
“Todos os milhares de outros tokens — não as stablecoins lastreadas em dólares americanos, mas todos os outros milhares de tokens — você precisa se perguntar: quais são os fundamentos? O que há por trás disso?… O público investidor precisa estar ciente desses riscos”, afirmou.
O histórico de Gensler e o atrito com a indústria
Gensler liderou a SEC de 17 de abril de 2021 a 20 de janeiro de 2025, conduzindo uma agenda agressiva de fiscalização que incluiu processos contra grandes intermediários cripto e a visão de que muitos tokens são valores mobiliários não registrados.
A indústria reagiu com desconforto às ações de alto perfil contra corretoras e programas de staking, bem como à postura de que a maioria dos emissores de tokens violava regras de registro.
Durante o mandato de Gensler, a Coinbase foi processada pela SEC por operar como uma exchange, corretora e câmara de compensação não registradas, além de oferecer um programa de staking como serviço sem aprovação. A Kraken também foi forçada a encerrar seu programa de staking nos EUA e pagar uma multa de US$ 30 milhões.
A politização das criptomoedas
Questionado sobre a politização do setor cripto — incluindo referências ao envolvimento da família Trump no mercado de criptomoedas feitas pelo entrevistador da Bloomberg —, o ex-presidente rejeitou essa interpretação.
“Não, eu não acho”, disse ele, argumentando que o tema está mais relacionado à equidade dos mercados de capitais e às “regras básicas de bom senso” do que a uma questão “entre democratas e republicanos”.
Ele acrescentou: “Quando você compra e vende uma ação ou um título, você quer obter diversas informações” e “o mesmo tratamento que os grandes investidores”. Essa é a base de justiça que sustenta os mercados de capitais dos EUA.
ETFs e a tendência à centralização
Sobre os ETFs, Gensler afirmou que as finanças “desde a antiguidade… caminham para a centralização”, de modo que não é surpreendente que um ecossistema nascido descentralizado tenha se tornado “mais integrado e mais centralizado”.
Ele observou que os investidores já podem se expor ao ouro e à prata por meio de fundos negociados em bolsa (ETFs) e lembrou que, durante seu mandato, foram aprovados os primeiros ETFs de futuros de Bitcoin nos Estados Unidos, conectando partes da infraestrutura cripto de forma mais estreita aos mercados tradicionais.
Os comentários mais recentes de Gensler traçam uma linha familiar: o Bitcoin ocupa uma categoria distinta, enquanto a maioria dos outros tokens continua, em sua visão, especulativa e carente de fundamentos.
Mesmo fora do cargo, sua forma de enquadrar o mercado ainda ecoará em tribunais, departamentos de compliance e comitês de alocação que ponderam o status do BTC diante da cautela regulatória persistente em relação às altcoins.