A crise comercial entre Estados Unidos e China reacendeu as tensões nos mercados globais e colocou o Bitcoin no centro de uma disputa narrativa: seria ele de fato o “ouro digital” ou está perdendo terreno para os ativos tradicionalmente estáveis?
O preço atual do BTC gira em torno de US$ 84.982, com uma leve valorização de 0,36% no intradiário. No entanto, apesar do alívio pontual após a suspensão de tarifas para mais de 50 países, analistas alertam que o cenário segue volátil, com riscos de novas quedas — tanto técnicas quanto macroeconômicas.
Para Pedro Gutiérrez, diretor Latam da CoinEx, a melhora nos índices como Nasdaq (+12%), S&P 500 (+9%) e Dow Jones (+8%) após o anúncio de Trump não apaga os riscos.
“A exclusão da China da suspensão mantém a incerteza no ar. Isso pressiona os mercados e pode afetar o Bitcoin caso as tensões se intensifiquem.”
No campo técnico, Gutiérrez destaca a formação da ‘cruz da morte’, quando a média móvel de 50 dias cruza abaixo da média de 200 dias — um padrão geralmente ligado a períodos de queda prolongada. Além disso, a Nuvem de Ichimoku aponta resistência forte acima do preço atual, indicando dificuldade para o BTC romper barreiras de alta no curto prazo.
“Apesar do alívio momentâneo, o Bitcoin enfrenta resistência pesada e precisa defender o suporte dos US$ 75.000”, completou o analista.
Bitcoin mantém apelo como proteção — mas ouro ganha tração
Enquanto o mercado cripto perde força — com queda acumulada de 19% no ano e perdas de 8% para o BTC, 51% para Ethereum e 30% para Solana — os ativos lastreados em ouro ganham protagonismo. Segundo Kevin Rusher, fundador da plataforma DeFi RAAC, a movimentação é clara.
“Estamos vendo um interesse significativo em ouro on-chain. DeFi está em um ponto de inflexão.”
Os dados do CoinGecko confirmam: PAXG subiu 22,9% e alcançou US$ 3.247, enquanto XAUT avançou 23%, chegando a US$ 3.236. Ambos superaram amplamente o desempenho do Bitcoin neste ano.
Mesmo com esses desafios, o Bitcoin mantém força como ativo alternativo, segundo Luiz Parreira, CEO da BIPA. Ele ressalta que, ao contrário de empresas tradicionais impactadas pelas rupturas logísticas, o BTC opera fora dessa dinâmica.
“O Bitcoin se posiciona como uma reserva de valor alternativa, especialmente para investidores que buscam ativos descorrelacionados dos investimentos tradicionais.”
Parreira também destaca a queda na correlação com índices como Nasdaq e S&P 500, o que reforça a independência do BTC em relação aos mercados tradicionais.
Correção mais leve mostra força do ativo
Para Sebastián Serrano, CEO da Ripio, o comportamento do Bitcoin no atual ciclo mostra maturidade.
“Mesmo diante da crise comercial, o BTC caiu menos que o S&P 500 e o Nikkei 225, mostrando fundamentos sólidos.”
Ele lembra que, em outubro de 2024, o Bitcoin era cotado abaixo de US$ 61.000, e que o topo histórico recente foi de US$ 109.000, em janeiro de 2025.
“É um ativo volátil, sim, mas com um histórico de recuperação impressionante e adoção crescente por empresas e governos.”
Com sinais técnicos de queda e um ambiente macroeconômico instável, os próximos meses devem testar a força do Bitcoin como reserva de valor.
Parreira aponta:
“Se o ativo mantiver sua base de suporte ou reagir positivamente a novos eventos geopolíticos, essa narrativa será ainda mais fortalecida.”
Serrano é mais direto:
“O BTC oferece respostas e oportunidades em meio a incertezas e riscos. Acredito que até o fim de 2025 poderemos ver um novo ciclo de alta.”