As autoridades chinesas disseram a empresas locais que parem de publicar pesquisas ou realizar seminários relacionados a stablecoins, segundo um relatório da Bloomberg divulgado na sexta-feira.
De acordo com a Bloomberg, citando pessoas familiarizadas com o assunto, os reguladores financeiros chineses teriam instruído corretoras locais e outras entidades a cancelar seminários e interromper a promoção de pesquisas sobre stablecoins. As autoridades estariam preocupadas que as stablecoins pudessem ser exploradas como uma ferramenta para atividades fraudulentas.
Christopher Wong, estrategista cambial do Oversea-Chinese Banking Corp., em Singapura, disse que Pequim pode estar buscando evitar um aumento especulativo entre investidores de varejo.
“Ainda há preocupação de que nem todos conheçam suficientemente o mercado de cripto, e os formuladores de políticas, sendo pragmáticos, não querem efeito manada quando investidores compram algo sem saber quais são os riscos”, afirmou.
China assume controle de seu ecossistema financeiro
A medida segue uma série de ações regulatórias destinadas a reforçar o controle sobre ativos digitais, incluindo regras que exigem que os bancos do país monitorem e sinalizem operações arriscadas envolvendo criptoativos. As atividades monitoradas incluem jogos de azar transfronteiriços, bancos clandestinos e operações financeiras ilegais transfronteiriças envolvendo cripto.
Ainda assim, embora a China imponha regras rigorosas em seu território continental, parece estar aproveitando as stablecoins quando elas atendem aos seus objetivos. Hong Kong é frequentemente visto como o sandbox regulatório da China e implementou recentemente uma nova estrutura para emissão de stablecoins, com um período de transição de seis meses e regras especiais.
A subsidiária em Hong Kong do banco Standard Chartered, em parceria com a empresa de software Web3 Animoca Brands, desenvolverá uma stablecoin atrelada ao dólar de Hong Kong por meio de uma joint venture anunciada na sexta-feira. A participação do Standard Chartered é particularmente relevante: o banco é uma das três entidades, ao lado do HSBC e do Bank of China (Hong Kong), autorizadas a emitir dólares físicos de Hong Kong sob supervisão da Autoridade Monetária de Hong Kong.
Além disso, no final de julho, a gigante chinesa de comércio eletrônico JD.com registrou entidades ligadas a um possível lançamento de stablecoin em Hong Kong. No mesmo mês, a Ant International, unidade sediada em Singapura do Ant Group, apoiado por Jack Ma, teria planos de solicitar licenças para emissão de stablecoins em Singapura e Hong Kong. A Jingdong Coinlink Technology Hong Kong, subsidiária do JD Technology Group, também anunciou planos de lançar uma stablecoin atrelada ao dólar de Hong Kong no verão de 2024.
Stablecoins de yuan permitidas, mas não na China
Há também exemplos atrelados ao yuan, mas que devem ser usados exclusivamente fora das fronteiras da China continental.
Segundo relatos de final de julho, a blockchain chinesa Conflux anunciou a terceira versão de sua rede pública e lançou uma nova stablecoin lastreada no yuan offshore. Essa notícia veio após a AnchorX receber, no final de fevereiro, uma aprovação preliminar do regulador do Cazaquistão, a Astana Financial Services Authority, para sua stablecoin atrelada ao yuan, AxCNH.
Embora essa stablecoin seja baseada na moeda fiduciária da China continental, seu objetivo é atender apenas entidades chinesas offshore e países envolvidos na Iniciativa do Cinturão e Rota, estratégia global de infraestrutura e economia da China que visa conectar Ásia, África e Europa por meio de rotas comerciais terrestres e marítimas.
Apesar das restrições internas, a China parece permitir de forma seletiva a expansão global de sua influência na moeda digital, mas não dentro de suas próprias fronteiras.