O economista venezuelano Carlos Hernández escreveu um artigo intitulado “O Bitcoin Salvou Minha Família” ("Bitcoin Has Saved My Family"), publicado no New York Times em 23 de fevereiro, revelando que compra e vende Bitcoins (BTC) como alternativa à desvalorização diária da moeda oficial venezuelana, o Bolívar (VEF).
Segundo Carlos Hernández, que é economista e articulista do portal Caracas Chronicles, o Bitcoin teria salvado sua vida oferecendo mais segurança com transações e taxas mais eficientes do que o câmbio oficial ou que o câmbio informal, uma vez que a maior criptomoeda tem registrado menor flutuação com relação ao Bolívar e teria permitido ao economista adquirir ativos com menor instabilidade, como o BTC.
“Eu guardo todo meu dinheiro em Bitcoin”, contou. “Manter meu dinheiro em Bolívar seria suicídio financeiro: Da última vez que chequei, a taxa de inflação diária era de 3.5% Essa é a diária, a inflação anual de 2018 foi de quase 1.8 milhão por cento. Eu não tenho conta fora do país, e com os controles de câmbio da Venezuela, não existem métodos fáceis de câmbio estrangeiro como de dólar americano”.
Ele utiliza um exemplo como a compra de leite para traçar uma parábola sobre sua situação financeira. Para comprar leite, ele precisa recorrer ao Bolívar, e para isso vende Bitcoins através de sites de anúncios cripto como o LocalBitcoins, o mais popular entre os locais. A partir da venda, os Bitcoins ficam em custódia do site até que a transação bancária seja completada, operação que demora cerca de 10 minutos, segundo Hernández.
Ele ainda diz que não é possível realizar grandes transações bancárias, uma vez que os órgãos financeiros controlam qualquer transferência ou pagamento acima de US$ 50 e, como o Cointelegraph já mostrou, o governo da Venezuela impôs taxas e limites às remessas de criptomoedas.
De qualquer maneira, ele reafirma que a maior criptomoeda salvou sua família da miséria.
Segundo ele, com as pequenas transações ele conseguiria pagar as despesas da casa e evitar a desvalorização rápida da renda doméstica em Bolívar. Ele, porém, conta que a escassez de abastecimento às vezes faça com que eles não tenham acesso a produtos básicos, como o leite.
A compra de Bitcoin também teria permitido ao irmão de Carlos Hernández sair do país. Segundo ele, o irmão viu sua profissão de advogado se esvaziar com a crise, o que levou-o a buscar pequenos trabalhos no exterior como designer, pelos quais foi pago em criptomoedas. Isso permitiu que ele acumulasse capital e saísse do país pela Colômbia.
Os fundos disponíveis nas carteiras eletrônicas protegidas por senha permitiram que ele passasse tranquilamente pelo controle de fronteira.
“‘Dinheiro sem fronteiras’ é mais do que uma força de expressão quando você vive em uma economia em colapso”, diz ele. O economista conta, porém, que o irmão não conseguiu prosperar no país vizinho e teve que retornar a sua pátria.
O artigo ainda conta que é comum recorrer aos Bitcoins entre os venezuelanos e que o país registra grande volume de transações em criptomoedas. A Bloomberg noticiou em abril de 2018 o recorde de US$1 milhão em transações diárias no país.
De acordo com a Coin Dance, que monitora transações em criptomoeda, em 16 de fevereiro os venezuelanos movimentaram US$6.9 milhões através da LocalBitcoins.com, segundo maior país atrás dos US$13.8 milhões da Russia. Os dados foram convertidos pelo economista através do CoinMarketCap.
Como o Cointelegraph noticiou, a Venezuela lançou em 2018 a sua própria criptomoeda, o Petro, que fracassou na tentativa de recuperação financeira do país. Desde então, as autoridades financeiras aplicaram uma série de sanções econômicas na tentativa de aplacar a crise na economia do país sul-americano.