Após 1035 dias e ganhos surpreendentes no ano de 2020, o Bitcoin atingiu a máxima histórica no mercado brasileiro. 

Nesta quarta-feira (21), a unidade de Bitcoin é negociada a R$70 mil no Mercado Bitcoin, atingindo a marca psicológica mais importante do mercado brasileiro. A máxima histórica do país foi atingida após o ativo subir mais de 5% e negociar R$200 bilhões em BTC nas últimas 24 horas no mercado global, de acordo com dados do coinmarketcap

 

Gráfico mensal preço do Bitcoin em BRL. Fonte: Tradingview

Esse movimento elevou o preço do Bitcoin aos patamares mais altos do mercado brasileiros.  

Mas, apesar do Bitcoin atingir sua máxima histórica em reais, o Bitcoin continua longe da máxima em dólares. Entretanto, a resistência recém superada dos R$ 70 mil coincide com o nível crucial dos US$ 12 mil. 

A não-correlação entre o topo histórico medido em reais e em dólares ocorre por conta da forte desvalorização do real frente ao dólar. 

A alta de 2017 e a nova máxima histórica do Bitcoin 

Quando comparado a outras moedas fiduciárias, o real teve a pior performance frente ao dólar, desvalorizando 40% em 2020 . Enquanto isso, no acumulado do ano, o Bitcoin valorizou mais de  200 % em dólar e mais de 400% contra o real. 

Para ilustrar como a inflação brasileira ajudou a elevar o valor do Bitcoin medido em reais, basta comparar o valor da unidade do Bitcoin em dólares e em reais na última máxima histórica. 

Quando o Bitcoin atingiu sua máxima histórica em dezembro de 2017, cada unidade de Bitcoin valia R$ 70 mil no mercado brasileiro e US$ 20.000 no mercado americano. Nessa época, o dólar no Brasil era cotado em cerca de R$ 3,30. 

No momento de publicação desse artigo, na nova máxima histórica do Brasil, o Bitcoin é cotado em R$ 70 mil e US$ 12 mil  (cerca de 35% abaixo da máxima histórica em dólar). O dólar no Brasil está sendo negociado à R$ 5,60, com a taxa de câmbio no nível nominal mais baixo da história. 

 

Gráfico semanal BRL/USD. Fonte: Tradingview

Bitcoin como Hedge 

Mas não foi apenas no Brasil que o Bitcoin atingiu sua máxima histórica ''precoce''. Em maio, por exemplo, a moeda digital atingiu sua máxima histórica na Argentina, e, antes disso, atingiu a máxima na Venezuela.

Nos últimos meses, o Federal Reserve e outros Bancos Centrais do mundo injetaram trilhões de dólares na economia para lidar com a crise do coronavírus. O cenário de inflação do estoque de dólar na economia mundial é duplamente favorável ao Bitcoin.

Primeiro, porque o Bitcoin é visto como um ativo de baixa correlação com o mercado tradicional, ao menos quando analisamos um histórico mais longo de dois ou três anos. Essa falta de correlação torna o BTC uma alternativa ao mercado de ações, por exemplo, já que o S & P500, indicador das bolsas nos EUA, encontra-se na máxima histórica.

Para o analista de mercado Marcel Pechman, os gastos dos governos refletem diretamente na alta das bolsas e no processo de desvalorização do real. Segundo Pechman:  

''O investidor que continuar acompanhando seu portfólio em Reais, seja ele de imóveis, ações de empresas, ou criptomoedas, vai ter uma grata surpresa em alguns anos. Cada vez será mais comum ver milionários na moeda local, da mesma forma que um carro popular no Líbano custa quase 7 milhões de Libras Libanesas. Ou seja, esta suposta alta que vemos na bolsa de valores brasileira, assim como a valorização dos imóveis na última década, representa apenas a desvalorização do Real. Isto ocorre por conta do descontrole de receitas e gastos do governo.''

Esse movimento tem se acelerado ainda mais com novas empresas como Fidelity e a Square, comprando milhões de dólares em Bitcoins e se posicionando em Bitcoin. 

O segundo fator favorável é que neste cenário, o Bitcoin funciona como proteção (hedge) cambial para a população de países que enfrentam crises fiscais. Deste modo, o BTC protege os investidores da desvalorização de suas moedas fiduciárias. 

Enquanto o dólar americano tem mostrado fraqueza desde março, com as quedas acentuadas do índice DXY, o Bitcoin têm se destacado como um ativo deflacionário no contexto global de injeção de capital, funcionando como proteção para os pacotes de estímulo dos Bancos Centrais. 

Gráfico diário do US. Dollar Currency Index. Fonte: TradingView 

Dominância do Bitcoin, Máxima Histórica e as Altcoins

A máxima histórica do Bitcoin no Brasil não foi acompanhada pelas máximas históricas de outras criptomoedas. Mesmo o ETH, segunda moeda em valor de mercado, continua 18% abaixo da máxima histórica do real e 70% abaixo da máxima do dólar, sendo atualmente negociado nas faixas dos  R$ 2 mil e US$ 400. 

Em janeiro de 2018, na maior alta do ETH, o ativo chegou a ser negociado a R$ 4.600,00 e US$ 1.400,00. Algumas criptomoedas que atualmente ocupam o TOP 10 do coinmarketcap, como Polkadot (DOT) e Chainlink (LINK) não haviam nem sido listadas em 2018.

A disparidade entre as máximas históricas do Bitcoin e do resto do mercado de altcoins se deve principalmente ao aumento da dominância do Bitcoin sobre os outros criptoativos. Em relação a janeiro de 2018, a dominância do ativo cresceu mais de 80%, sendo responsável por mais de 60% do marketcap.   

Gráfico mensal da dominância do BTC. Fonte: TradingView 

A não correlação entre as máximas históricas do Bitcoin e das outras altcoins indica que o mercado tem tido um apreço especial pelo Bitcoin no cenário de busca de ativos sólidos frente à crise do coronavírus. Apesar do aumento da popularidade dos protocolos DeFi e do pump de vários protocolos, o Bitcoin tem se consolidado como o ouro digital, descolando-se do mercado de criptomoedas. 

O que precisa acontecer pra bater máxima em dólar?

A all-time-high (ATH) do Bitcoin em dólar depende de uma série de fatores, mas é preciso entender  o ativo dentro da economia como um todo. Atualmente, investidores têm buscado opções sólidas, tais como o ouro HBU (GOLD 2x), empresas de Lithium (LIT) e companhias consolidadas como a Apple (AAPL).

Se o Bitcoin é visto como uma reserva de valor em cenários de inflação, é esperado que o ativo acompanhe o movimento de outros ativos estáveis e não que ele se mova sozinho. E de fato, essa correlação tem sido vista e se fortalecido desde março, após o derretimento dos mercados como reação à pandemia.  

Bitcoin/U.S Dollar & HBU, APPL, LIT. Fonte: BITSTAMP

O contexto econômico global e a nova máxima histórica do Bitcoin mostra que apesar das criptomoedas representarem uma nova classe de ativos, o Bitcoin está correlacionado com os efeitos negativos da impressão de trilhões dos bancos centrais e desvalorização do USD. E sua máxima histórica depende de desdobramentos macroeconômicos.