O Bitcoin (BTC) se prepara para registrar um crescimento superior a 150% no acumulado anual. Após começar o ano cotada a US$ 16.625,51, o preço da maior criptomoeda em valor de mercado é de US$ 42.098,17 no momento da escrita desta matéria. Vinicius Bazan, Head de Criptoativos na Empiricus Research, fez uma retrospectiva do desempenho do BTC e do mercado cripto em 2023, avaliando os principais catalisadores vistos no ano.

Bazan afirma que é “impossível negar” que o bom desempenho de diferentes criptomoedas reforça a “profecia” dos ciclos de quatro anos do mercado de criptomoedas. A profecia mencionada pelo analista defende que os ciclos de preço do mercado cripto acompanham os halvings do Bitcoin e, dentro dessa teoria, o ano que antecede os halvings tende a ser um período de recuperação nos preços.

Primeiro trimestre conturbado

Em janeiro, quase dois meses após o colapso da FTX, evento que derrubou o preço do BTC, o mercado iniciou um leve processo de recuperação. O Bitcoin buscou novamente os US$ 20 mil, movimento que Bazan atribuiu ao “aumento de liquidez global”.

Essa recuperação desencadeou um movimento de aceleração de ganhos para algumas altcoins em fevereiro, ao mesmo tempo em que o ‘hype’ de inteligência artificial tomou o mundo. “A SingularityNet (AGIX), por exemplo, foi um dos tokens que mais subiu nesse período”, aponta o analista.

No mesmo mês, porém, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) investiu contra empresas do mercado de criptomoedas. Dois casos notórios foram: a ordem da SEC para que a Kraken encerrasse seu programa de staking e pagasse US$ 30 milhões de multa; e a ordem do regulador direcionada à Paxos, envolvendo a interrupção definitiva da emissão da stablecoin Binance USD (BUSD). 

Para Bazan, essas duas ações do regulador estadunidense foram os primeiros indicativos de que 2023 seria o “ano da regulamentação”.

Finalizando o primeiro trimestre de 2023, uma crise bancária ocorrida nos Estados Unidos respingou no mercado de criptomoedas. O Silicon Valley Bank (SVB) foi um dos bancos afetados, e a Circle, emissora da stablecoin USDC, era uma das empresas com capital no banco. A notícia, inclusive, fez com que o USDC perdesse momentaneamente sua paridade com o dólar.

Para evitar que a situação escalasse, o governo estadunidense interviu e ofereceu um resgate aos clientes dos bancos afetados. Apesar do impacto indireto sofrido pelo mercado cripto, a tese de que o Bitcoin é uma moeda soberana favoreceu o ativo, causando mais uma valorização no primeiro trimestre.

“Isso ajudou, posteriormente, para a construção de uma visão mais positiva sobre o ativo por parte de empresas do mercado tradicional, com o bitcoin passando a ser visto como um hedge contra uma crise do sistema financeiro tradicional”, avalia Bazan. 

Segundo trimestre e a BlackRock

O Ethereum (ETH) começou o segundo trimestre de 2023 sendo beneficiado por sua atualização Shanghai, que permitiria o saque de ETH em staking, após mais de dois anos sendo impossível sacar os ativos alocados no processo de segurança da rede.

Os temores de que a nova oferta de ETH no mercado prejudicasse o preço da criptomoeda se dissiparam rapidamente, e a Ether saltou para os US$ 2 mil. Ao mesmo tempo, o BTC alcançou os US$ 30 mil pela primeira vez desde junho de 2022. Apenas em quatro meses, a recuperação do BTC já era de 80%.

A melhora no sentimento do mercado incentivou a ARK Invest a submeter um novo pedido por um ETF ligado ao preço à vista do Bitcoin. Mesmo com pedidos que datam desde 2013, a SEC nunca aprovou um fundo negociado em bolsa indexado ao preço de varejo do BTC, alegando que o instrumento de investimento facilitaria a manipulação de mercado.

Em maio, Bazan aponta apenas dois episódios importantes no mercado cripto. O primeiro episódio foi a primeira queda no acumulado mensal do BTC, após o cripotoativo falhar em superar a marca dos US$ 30 mil. O segundo foi a deflagração de investigações contra a Binance nos Estados Unidos, por uma suposta facilitação de evasão de sanções à Rússia.

O mês de junho, contudo, foi classificado pelo Head de Criptoativos da Empiricus como muito importante para ditar os rumos do mercado cripto para o restante de 2023. “Este começou como o pior mês do ano e se tornou o melhor de 2023, na minha opinião, marcando um ponto de virada para o mercado cripto e consolidando o ciclo de alta”, avalia Bazan.

O pior início se refere a outro processo sofrido pela Binance nos Estados Unidos, e por parte da SEC desta vez, por uma suposta violação das leis de valores mobiliários estadunidenses. A Coinbase também foi processada por oferecer valores mobiliários em sua plataforma sem o devido registro.

Juntamente com as acusações feitas contra duas das maiores exchanges do mercado, o processo também classificou diversos dos 50 maiores criptoativos em valor de mercado como valores mobiliários.

O fim de junho, entretanto, trouxe uma reviravolta muito positiva: a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, formalizou seu pedido para criar um ETF ligado ao preço de varejo do Bitcoin. Bazan afirma que o movimento foi entendido por muitos analistas no mercado como um algo coordenado.

“Outras gigantes do mercado tradicional se juntam à corrida do ouro (ou do bitcoin) como a Fidelity. Wistom Tree, VanEck e Bitwise também fazem parte do grupo. Com isso, o Bitcoin disparou novamente, voltando aos US$ 30 mil”, acrescenta.

Novas vitórias no terceiro trimestre

Em julho, o movimento de alta iniciado no mês anterior foi intensificado, após a Ripple conseguir uma vitória parcial em seu processo contra a SEC. A juíza responsável pelo caso entendeu que a venda de XRP ao mercado secundário, através de plataformas para negociação de criptoativos, não torna o token em valor mobiliário.

No mesmo mês, Larry Fink, CEO da BlackRock, disse em rede nacional que “o Bitcoin pode revolucionar o mercado financeiro”, ajudando a intensificar a narrativa de que o BTC é um ativo que deve fazer parte de portfólios tradicionais, fortalecendo a tese para a aprovação dos ETFs.

O bom momento vivido no mercado de criptomoedas, contudo, passou por uma interrupção em agosto, quando os volumes negociados atingiram seus níveis mais baixos. “Isso, aliado à baixa volatilidade e à falta de notícias, fez com que o mercado entrasse em correção”, explica Bazan.

Além disso, um mal-entendido ocorrido nos documentos da SpaceX fizeram o mercado crer que a empresa vendeu seu saldo em BTC, causando uma queda de 12% no Bitcoin em apenas um dia. 

Por outro lado, os pontos positivos de agosto incluem o lançamento da PYUSD, stablecoin do PayPal, e o lançamento da Base, blockchain de segunda camada da Coinbase. Outro desenvolvimento significativo, apontado por Bazan, foi a vitória da Grayscale em um processo contra a SEC, envolvendo a rejeição de seu pedido de conversão do fundo GBTC para ETF.

A decisão fez com que a SEC precisasse rever o argumento de que a aprovação de um ETF facilitaria a manipulação de mercado. “O Bitcoin subiu, mas os ganhos foram apagados em menos de 50 horas, dada a estrutura precária do mercado no mês”, salienta o Head de Criptoativos da Empiricus.

O “marasmo” do mercado continuou em setembro, mas Bazan considerou o momento como algo positivo, avaliando como “uma das últimas oportunidades de comprar BTC abaixo de US$ 30 mil em 2023”.

Reta final de novas surpresas

O último trimestre de 2023 foi marcado por muitas surpresas positivas para os investidores de criptomoedas. O mês de outubro, aponta o analista da Empiricus, marcou o “início do rali de fim de ano”. Alguns movimentos de preço significativos foram a valorização de 70% da Solana (SOL) e o rompimento dos US$ 30 mil feito pelo Bitcoin.

O movimento de alta iniciado em outubro foi mantido em novembro, com o Bitcoin se aproximando dos US$ 40 mil. No mesmo mês, Sam Bankman-Fried, ex-CEO da FTX, foi considerado culpado em sete acusações de fraude.

Além disso, a BlackRock aproveitou o bom momento do mercado para entrar com um pedido de ETF ligado preço de varejo do Ether. As emoções de novembro, contudo, não pararam por aí.

A Binance, maior exchange do mundo, firmou um acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos que consiste no pagamento de US$ 4,3 bilhões para interromper as investigações sobre supostos crimes cometidos pela exchange no país. O episódio também foi marcado pela saída de Changpeng Zhao, CEO da Binance desde a criação da empresa, da cadeira de diretor executivo. 

O mercado cripto, entretanto, não se abalou com a notícia. Bazan salientou ainda que o movimento foi visto como algo positivo, e um dos últimos passos que faltavam para a aprovação dos ETFs de Bitcoin.

No último mês do ano, o Bitcoin rompeu os US$ 40 mil e encostou nos US$ 45 mil. Durante esse movimento, diversas altcoins exibiram valorizações expressivas, como: SOL, Avalanche (AVAX), Injective (INJ) e Celestia (TIA).

“A Solana, em especial, ultrapassou os US$ 100 dólares, algo que não acontecia desde abril de 2022, deixando para trás o fantasma da FTX e se tornando uma das maiores altas de 2023.”

O que resta em 2023, acrescenta Bazan, é aguardar a aprovação dos ETFs de Bitcoin, evento previsto para janeiro do próximo ano. 

“O mercado volta seus olhos para o que pode acontecer depois: talvez uma consolidação dos preços até o Halving? Uma correção mais forte como é de praxe nesta fase do ciclo? Novas surpresas? O mais importante segue sendo o impacto positivo do Halving para o bitcoin e a possível aceleração do bull market na segunda metade de 2024, alimentado também pelo início dos cortes de juros nos EUA. Ao que tudo indica, mesmo que com volatilidade e correções, teremos um novo ano repleto de oportunidades e de retorno positivo para o Bitcoin e demais criptomoedas”, conclui o Head de Criptoativos da Empiricus.