Como a corrida do ouro terminou em outubro de 2025
Após uma forte alta que levou o preço do ouro acima de US$ 4.300 por onça, o metal atingiu um marco histórico impulsionado pela demanda por proteção. Em outubro de 2025, o mercado começou a registrar realização de lucros.
Os preços do ouro caíram mais de 2% em 17 de outubro de 2025, logo após atingirem o recorde. No momento da redação, o ouro à vista era negociado em torno de US$ 4.023 por onça — uma queda de 8,1% em relação à máxima histórica de US$ 4.378,69.
O principal gatilho da queda foi o arrefecimento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, depois que o presidente Donald Trump afirmou que manter tarifas em larga escala sobre a China seria insustentável. Além disso, o fortalecimento do dólar e o renovado interesse dos investidores em ativos de maior rendimento, como o Bitcoin (BTC), contribuíram para a correção.
Você sabia?
O termo “ouro digital” ganhou popularidade à medida que a escassez e a independência do Bitcoin começaram a espelhar o papel do ouro como proteção contra a inflação.
A história do ouro: quedas e picos
A história do ouro é marcada por altas dramáticas e quedas acentuadas, impulsionadas por inflação, taxas de juros e eventos geopolíticos. Do pico no início dos anos 1980 à correção após 2013 e à forte valorização nos anos 2020 antes da queda de outubro de 2025, o mercado do ouro passou por vários ciclos de altos e baixos.
Queda de 1980–1999: Após um rápido aumento de preços impulsionado por inflação e tensões geopolíticas, o ouro atingiu seu pico em janeiro de 1980, a cerca de US$ 850 por onça. A alta terminou com o “Choque Volcker”, quando o presidente do Federal Reserve, Paul Volcker, elevou agressivamente as taxas de juros acima de 20% para conter a inflação, provocando uma recessão. Isso levou a uma venda massiva, com o ouro caindo mais de 60% até 1982 e entrando em um mercado de baixa de longo prazo, atingindo cerca de US$ 278 por onça em 1999.
Crise de 2012–2018: Após atingir o pico em 2011, o ouro entrou em declínio prolongado à medida que a economia global se estabilizava e as ações superavam o metal. Em 2013, o Fed começou a reduzir seu programa de afrouxamento quantitativo, fortalecendo o dólar e direcionando capital para ativos de maior rendimento. O SPDR Gold Trust, principal ETF lastreado em ouro, viu mais de 30% de suas reservas serem retiradas. Entre 2014 e 2018, o ouro oscilou entre US$ 1.200 e US$ 1.400, abaixo dos US$ 1.680 em 2012.
Anos 2020: A década restaurou o status do ouro como ativo de proteção durante um período de incerteza global. Com a COVID-19 paralisando economias, governos injetaram mais de US$ 10 trilhões em estímulos, alimentando o medo de inflação. Até 2022, a inflação nos EUA superou 9%, fortalecendo o ouro como reserva de valor. Bancos centrais aumentaram suas compras para cerca de 1.000 toneladas métricas anuais entre 2022 e 2024. Mesmo com juros altos, o ouro subiu de US$ 1.785 em 2020 para mais de US$ 3.200 no início de 2025.
A queda de outubro de 2025, no entanto, levou investidores a buscarem alternativas como o Bitcoin, que segue relativamente independente das políticas de governos e bancos centrais.
Como o dinheiro começou a fluir para o Bitcoin
A narrativa do “ouro digital” se fortaleceu, com investidores mais jovens vendo o Bitcoin como uma proteção moderna contra inflação e desvalorização das moedas. Muitos o consideram mais acessível e inovador que o ouro físico, elevando seu valor de mercado de US$ 134 bilhões em 2019 para mais de US$ 2,4 trilhões no primeiro semestre de 2025.
ETFs e ETPs de Bitcoin à vista ofereceram acesso institucional regulado, atraindo bilhões em entradas. No início de outubro de 2025, ETFs de Bitcoin nos EUA registraram um recorde de US$ 3,55 bilhões em entradas semanais, liderados pelo iShares Bitcoin Trust (IBIT), da BlackRock, ajudando o BTC a superar US$ 126 mil. Enquanto isso, ETFs de ouro registraram saídas superiores a US$ 2,8 bilhões nas últimas semanas, evidenciando o contraste entre os dois mercados.
Historicamente, as saídas de ouro e entradas em Bitcoin mostram uma relação inversa, com a correlação entre ambos caindo para -0,3 em períodos de maior apetite por risco. Os saldos de Bitcoin em exchanges caíram para o menor nível em seis anos — 2,83 milhões de BTC — indicando menor pressão de venda.
Bitcoin a US$ 200 mil: meta realista?
A trajetória do Bitcoin rumo aos US$ 200 mil parece sustentada por fortes fatores de mercado e macroeconomia. O halving de abril de 2024 reduziu as recompensas por bloco, apertando a oferta em meio ao aumento da demanda. Vários indicadores continuam sugerindo crescimento consistente.
Com o endividamento global em alta — cerca de US$ 338 trilhões no primeiro semestre de 2025, ou 235% do PIB global — o apelo do Bitcoin como ativo descentralizado segue crescendo.
O impulso institucional também se fortalece: em 24 de outubro de 2025, a Strategy (MSTR) detinha 640.418 BTC, seguida pela Marathon Digital Holdings (MARA) com 53.250 e a Celsius (CEP) com 43.514 BTC.
Um eventual afrouxamento monetário pelo Federal Reserve pode dar fôlego extra. A marca dos US$ 200 mil representa um forte ponto psicológico, incentivando investidores a migrarem de ativos como o ouro, que já registrou saídas de US$ 2,8 bilhões em ETFs.
Você sabia?
O ouro mantém seu status como reserva de valor há mais de 5.000 anos, enquanto o Bitcoin conquistou reconhecimento semelhante em pouco mais de uma década.
Como o capital está migrando do ouro para o Bitcoin
A movimentação de capital entre ouro e Bitcoin tem definido grandes ciclos de mercado, refletindo a evolução das preferências dos investidores.
2013–2017: Nesse período, o ouro permaneceu estável entre US$ 1.200 e US$ 1.400 após o pico de 2011, enquanto o Bitcoin disparou de US$ 100 para US$ 20 mil. O rali foi impulsionado por investidores de varejo em busca de uma alternativa descentralizada ao dinheiro fiduciário.
2020–2021: A adoção institucional levou o Bitcoin a US$ 69 mil, impulsionado por estímulos da pandemia e medo de inflação. Empresas como a MicroStrategy passaram a preferir BTC ao ouro. Em fases de “risk-on”, o Bitcoin tende a atrair capital por sua escassez e potencial de valorização.
As tendências recentes reforçam essa mudança: em outubro de 2025, os ETFs de Bitcoin registraram US$ 3,55 bilhões em entradas semanais, enquanto os ETFs de ouro tiveram saídas de US$ 2,8 bilhões. Esses fluxos evidenciam uma mudança geracional rumo aos ativos digitais.
Você sabia?
A oferta de ouro cresce cerca de 1% ao ano, enquanto a do Bitcoin se reduz pela metade a cada quatro anos — aumentando sua escassez e fortalecendo sua narrativa de valor de longo prazo.
Obstáculos no caminho do Bitcoin até US$ 200 mil
Embora entusiastas esperem que o Bitcoin alcance US$ 200 mil, o caminho tem obstáculos, como volatilidade, regulação incerta, possível recuperação do ouro e concorrência de outros ativos.
Volatilidade: O Bitcoin é altamente volátil. Compras institucionais podem gerar ralis, mas vendas por grandes detentores (“baleias”) provocam quedas abruptas.
Incertezas regulatórias: Em muitas regiões, as regras sobre o Bitcoin ainda estão sendo definidas. A falta de clareza tributária e de compliance pode afastar investidores institucionais.
Retorno do ouro: Em outubro de 2025, alguns investidores começaram a sacar fundos de ETFs de mineradoras de ouro, enquanto ETFs de cripto registraram recorde de US$ 5,95 bilhões em entradas globais, segundo a Reuters. Embora o apetite por cripto tenha levado o BTC a uma nova máxima, o ouro ainda pode se recuperar como ativo de proteção.
Concorrência: Ações, com retornos médios anuais de 10%, competem com ativos digitais. Títulos tokenizados e moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) também oferecem alternativas estáveis, desviando parte dos fluxos do Bitcoin.
Uma mudança geracional nos ativos de reserva de valor
Uma mudança geracional está redefinindo como as pessoas enxergam os ativos de reserva de valor. Investidores jovens, moldados pela era digital, são atraídos pelo Bitcoin por sua natureza descentralizada, sem fronteiras e com potencial de alto retorno.
Gerações mais velhas continuam preferindo o ouro por sua forma tangível e estabilidade comprovada. A digitalização crescente das finanças acelera essa transição, com a tecnologia blockchain substituindo sistemas lentos e baseados em papel por alternativas mais transparentes e eficientes.
Com o tempo, ouro e Bitcoin podem coexistir em um modelo de proteção em dois níveis: o ouro oferecendo confiabilidade e escassez física, e o Bitcoin, crescimento e adaptabilidade digital. Juntos, equilibram tradição e inovação — um reflexo de como os investidores estão se ajustando a um mundo financeiro cada vez mais complexo.