Em tempos de incerteza global, a busca por ativos de proteção cresce, e o Bitcoin tem se destacado como uma alternativa interessante em portfólios de investidores.
Enquanto ouro e títulos soberanos permanecem como escolhas tradicionais, o chefe global de criptomoedas do CME Group, Giovanni Vicioso, acredita que o Bitcoin oferece uma camada adicional de proteção, especialmente em momentos de crise geopolítica e inflação.
Em entrevista exclusiva ao Cointelegraph Brasil, Vicioso destacou que os produtos de criptomoedas do CME Group são projetados especificamente para a gestão de risco.
"Quando a volatilidade de mercado aumenta, os participantes recorrem à nossa liquidez 24 horas para proteger suas exposições a Bitcoin e Ether", disse ele.
Segundo o executivo, a liquidez profunda oferecida pela CME é crucial em momentos de incerteza, como os recentes conflitos no Oriente Médio e as preocupações com a inflação global.
Vicioso mencionou um exemplo recente que ilustra o papel do Bitcoin como ativo de proteção. No dia 5 de agosto deste ano, em meio a uma volatilidade significativa nos mercados, mais de 50% do volume de negociações do CME foi registrado até às 10h (horário de Brasília).
"Isso destaca como os participantes globais do mercado recorreram aos nossos produtos para gerenciar seu risco durante a noite, demonstrando a relevância do Bitcoin em períodos de alta incerteza", afirmou.
Confira a entrevista completa
Bitcoin em tempos de crise
Cointelegraph Brasil (CTBR): O Bitcoin é frequentemente mencionado como um ativo de proteção em portfólios durante momentos de incerteza global. Como você vê essa proteção em comparação com ativos tradicionais, como ouro e títulos soberanos, especialmente durante crises geopolíticas, inflação ou conflitos recentes, como os no Oriente Médio?
Giovanni Vicioso (GV): No CME Group, nossos produtos de criptomoedas são projetados para a gestão de risco. Quando se trata de volatilidade de mercado, os participantes recorrem à nossa liquidez 24 horas por dia para proteger suas exposições em bitcoin e ether – oferecendo liquidez profunda nos momentos mais críticos.
Por exemplo, considere a ampla volatilidade que observamos nos mercados em 5 de agosto deste ano. Em média, mais de 50% do volume daquele dia foi negociado até às 9h EST, destacando ainda mais como participantes globais do mercado utilizaram nossos produtos quando precisaram gerenciar seu risco durante a noite.
CTBR: Os gestores de ativos estão buscando aprovação da SEC para listar ETFs de índice, oferecendo exposição a criptomoedas além de Ethereum e Bitcoin. A CME tem planos semelhantes para o mercado de futuros, como futuros para XRP, Solana ou futuros de índices de criptomoedas?
GV: Nosso foco continua o mesmo desde que introduzimos o primeiro contrato de futuros de Bitcoin em 2017 – continuar trabalhando em estreita colaboração com os clientes para melhor entender e antecipar suas necessidades, o que é a força motriz por trás de tudo o que fazemos.
Continuaremos a desenvolver e promover nossa atual gama de derivativos, garantindo que permanecemos como um dos principais locais para a gestão de risco de criptomoedas. No momento, estamos animados com o recente lançamento do nosso mais novo produto de futuros de criptomoedas da CME – os futuros de Bitcoin Friday, mais conhecidos como seu novo BFF, que ficaram disponíveis para negociação em 30 de setembro.
Mais de 31.000 desses contratos foram negociados no primeiro dia, tornando este nosso lançamento mais bem-sucedido no setor de criptomoedas na CME até o momento. Ficamos satisfeitos ao ver o interesse e suporte dos clientes logo no início, tanto nas negociações em tela quanto no mercado de blocos.
O tamanho menor desses contratos, junto com um vencimento semanal às sextas-feiras, proporcionará aos investidores não apenas uma maneira mais acessível de acessar o mercado de bitcoin, mas também permitirá que eles gerenciem sua exposição ao bitcoin de forma mais eficaz – tudo em uma bolsa regulamentada.
Além disso, na primeira semana de negociação, mais de 97.000 contratos BFF foram negociados, com uma média diária de volume de 19.400 contratos. O volume aberto tem uma média de 11.500 contratos.
ETFs e regulamentação
CTBR: Considerando o aumento da regulamentação das criptomoedas em todo o mundo, como a CME está se preparando para adaptar suas estratégias de investimento em um ambiente mais regulamentado?
GV: Uma coisa que diferencia o CME Group de outras exchanges nativas de cripto é que somos regulados pela CFTC. Isso promove transparência, descoberta eficiente de preços e ajuda a proteger os participantes contra manipulação, fraude e práticas de negociação ilegais.
Nossos contratos também são liquidados em dinheiro com base na taxa de referência do contrato, oferecendo aos clientes total exposição ao desempenho das criptomoedas sem precisar possuí-las diretamente ou se preocupar onde ou como manter a posição física.
Também temos uma proposta de valor única no CME Group, onde possuímos nossa própria câmara de compensação. Isso significa que o CME Clearing é a contraparte central de cada transação, atuando como comprador para cada vendedor e vendedor para cada comprador, mantendo assim um livro casado e uma posição neutra em termos de risco.
Oferecemos ainda contas segregadas para clientes, onde as posições são mantidas separadas e protegidas contra a mistura com outras contas e fundos do CME Group.
CTBR: O uso de ETFs (todos aprovados somente após a negociação no mercado de futuros) para criptomoedas facilitou o acesso de investidores tradicionais ao mercado digital. Quais são os próximos passos para tornar a tokenização de ativos uma realidade mais ampla nos mercados financeiros tradicionais?
GV: O desenvolvimento de ETFs foi significativo para o espaço cripto – agora há mais oportunidades do que nunca para investidores acessarem o mercado. O primeiro ETF de futuros de bitcoin foi lançado em 2021, investindo diretamente em nossos futuros de bitcoin.
Atualmente, as aprovações de ETFs de bitcoin e ether à vista pela SEC certamente se mostraram catalisadores positivos de crescimento. Nossos derivativos de cripto ganharam impulso após os lançamentos dos ETFs, com cada vez mais participantes do setor usando nossos produtos para proteger suas exposições.
Sete dos ETFs de bitcoin à vista e quatro dos ETFs de ether à vista estão vinculados às nossas taxas de referência CME CF Bitcoin e Ether.
No terceiro trimestre de 2023, a média diária de volume combinado de criptoativos foi de 104 mil contratos (US$ 5,8 bilhões em valor nominal equivalente), com um volume aberto (OI) de 143 mil contratos.
No terceiro trimestre, os futuros de bitcoin tiveram uma média diária de volume de 15,3 mil contratos, com um recorde de OI de 29,4 mil contratos. Os micro futuros de bitcoin registraram uma média diária recorde de 41,6 mil contratos em agosto.
No mesmo trimestre, os futuros de ether tiveram uma média diária de 5,2 mil contratos, com um recorde de OI de 6,7 mil contratos. Os micro futuros de ether registraram uma média diária recorde de 38,8 mil contratos em agosto.
Também observamos outras tendências interessantes em nosso mercado com a introdução desses produtos: quase 20% do volume diário está sendo negociado entre 15h e 16h EST, o que corresponde a aproximadamente US$ 600 milhões com base no preço médio do bitcoin.
As instituições têm usado nossos produtos para descoberta de preços e para proteger riscos em torno do cálculo do NAV para esses ETFs. Os casos de uso de bitcoin, ether e outras criptomoedas são o que, no fim, impulsionarão o valor e o crescente interesse pela tokenização, que pode ajudar a reduzir os tempos de liquidação, diminuir custos operacionais e desbloquear valor. Desbloquear valor é uma iniciativa fundamental para o crescimento futuro.