Após o boom de 2021, o mercado de NFTs vem passando em 2022 por um momento de consolidação. Não vemos mais o grande hype alcançado por projetos medíocres, e assim como ocorre com as demais áreas do mercado cripto, o bear market vem cumprindo um papel de filtragem.

Ainda que a imagem associada aos NFTs pelo grande público seja, em geral, a de imagens de perfil (PFPs) pixeladas ou de macacos valendo centenas de milhares de dólares, as possibilidades trazidas pelos tokens não fungíveis seguem sendo exploradas, e uma série de soluções vem sendo desenvolvidas sem muito alarde e preparando o segmento para a maturidade.

Se, ao final de 2021, o hype do mercado se voltou para projetos atuando na construção do Metaverso, agora nesse momento de bear market investidores buscam investir em soluções ainda pouco comentadas, mas que prometem transformar radicalmente o mercado cripto nos próximos anos.

SBTs

Os chamados Soulbound Tokens (SBTs) vêm recebendo cada vez mais atenção da comunidade cripto após a publicação em maio de um paper com co-autoria de Vitalik Butarin, fundador da Ethereum. Esse documento apresenta para o grande público como essa inovação pode promover a maior revolução no ecossistema cripto desde o surgimento dos contratos inteligentes. Em síntese, tratam-se de tokens não-transferíveis, permitindo a vinculação de pessoas e instituições à blockchain de uma forma até agora impensável.

Há projetos em curso como Soulbound, que visam trazer maior eficiência às chamadas guildas de games play-to-earn na identificação e avaliação de jogadores empregados. Já Project Galaxy surgiu recentemente como uma solução onchain para processos de verificação know-your-costumer (KYC), além de permitir a construção de projetos com a tecnologia de credenciais na Web3.

Buy Now, Pay Later (BNPL)

Como o nome sugere, trata-se do financiamento de NFTs, solução que pode abrir o mercado para novos investidores. Para o segmento de games, é especialmente interessante ao oferecer uma alternativa para jogadores de baixa renda. A principal solução de acessibilidade para esses games hoje no mercado são as chamadas scholarships, modelo em que jogadores dividem ganhos com donos de NFTs, em alguns casos companhias com milhares de jogadores. 

A nova alternativa chega como o equivalente ao financiamento da casa própria para alguém que aluga a sua. Mas, assim como no mercado de imóveis a compra não necessariamente é a melhor escolha, o mesmo pode ocorrer com NFTs, já que a volatilidade do mercado devem trazer altas taxas. 

Interessados em financiar um NFT “blue chip” receberam diversas opções nos últimos meses. As principais no mercado atualmente são Teller, Cyan e Ape Now, Pay Later. Já os gamers poderão em breve contar com a Halliday, que recentemente captou US$ 6 mi em uma seed round liderada por Andreessen Horowitz.

NFTs como colateral

Trata-se de uma solução um pouco mais consolidada, com projetos já presentes desde 2021, mas em plena expansão. Se destacam nesse setor a centralizada Nexo, restrita a algumas coleções “blue chip”; Arcade, projeto onchain e compatível com maior variedade de coleções, e NFTfi, em que o processo é totalmente descentralizado, e cabe a cada lender selecionar os NFTs sobre os quais farão uma oferta de empréstimo.

Há potencial aqui para grande geração de valor, à medida em que estes NFTs podem ser encaixados em estratégias de negócios e trazerem fluxos de caixa paralelamente à atividade especulativa. De certa forma, é um complemento da solução anterior, trazendo para os NFTs a possibilidade de serem não apenas financiados, mas também hipotecados. Praticamente um imóvel (mas móvel ainda por cima 

As características singulares desses tokens (não-fungibilidade e pouca liquidez) trazem riscos adicionais. Um oracle não consegue rastrear o preço de mercado de um ativo específico com a mesma precisão de um token tradicional, o que traz para o mercado a exigência de altos colaterais e liquidações precoces. Mas esse é um problema que as próximas inovações estão ajudando a solucionar.

Fracionalização de NFTs

Aqueles interessados em investir em coleções de NFTs blue-chip, mas sem capital ou desejo de se expor dezenas de milhares de dólares em ativos de baixa liquidez agora podem finalmente acessar esse mercado. A fracionalização permite que um NFT seja quebrado em pequenas frações, o que traz diversas vantagens: redução de custo de entrada, um processo mais eficiente de descoberta de preços e, com ela, maior liquidez para os ativos.

A plataforma centralizada Rally oferece a solução para NFTs em meio a investimentos em frações de bens físicos colecionáveis, enquanto Fractional permite o mint e a fracionalização de NFTs existentes. Outra plataforma interessante é o NFTfy, que permite ainda a compra coletiva de NFTs da OpenSea.

Derivativos de NFTs

Solução interessante por permitir o investimento nesses ativos com menor capital, e ao mesmo tempo com maior alavancagem, abrindo o mercado para dois perfis distintos de investidores.

A plataforma NFTures ambiciona tomar a dianteira na solução, se apoiando na já comentada fracionalização de NFTs e oráculos para permitir a aposta em altas e baixas de NFTs. Ainda em desenvolvimento, a plataforma oferece uma interface simples, inspirada em apps de relacionamento. 

Além desta, está em desenvolvimento Mimicry, um fork do Syntethix, uma das principais plataformas de derivativos em cripto. Usuários poderão emitir derivativos através do stake do token $MIMIC, mas atualmente exige uma colateralização de 800% devido à alta volatilidade dos ativos.

Considerações finais

As soluções apresentadas vão em direção às deficiências que ainda persistem no setor. Não necessariamente veremos todas elas serem bem sucedidas, mas o momento de experimentação está diante de nós. 

A falta de liquidez vem tornando o mercado em 2022 um paraíso para a arbitragem às custas de investidores inexperientes. Um mercado mais líquido de NFTs e integrado aos demais mecanismos financeiros presentes em cripto aparece certamente como uma boa notícia.

As informações contidas neste texto são de responsabilidade do autor e não necessariamente refletem as posições do Cointelegraph Brasil. Esta não pode ser considerada uma recomendação de investimento, cada investidor deve comandar sua própria pesquisa e tomar decisões por sua conta e risco.